Narcotráfico põe México em estado de guerra
Violência de narcotraficantes leva Governo a mobilizar milhares de soldados e polícias para Michoacán
a O Governo do México está a deslocar milhares de soldados e polícias, apoiados por veículos blindados e helicópteros, para o estado de Michoacán, no Oeste do país. É uma resposta à ofensiva desencadeada na última semana por um cartel da droga e que já provocou a morte de, pelo menos, 16 polícias nos últimos dias. "Para os membros destes grupos criminais, não há alternativa... a não ser obedecer à lei", disse, citado pela Reuters, o ministro do Interior, Fernando Gomez Mont, quando anunciou o reforço com 5500 efectivos do dispositivo antidroga do Estado.
Numa das mais violentas acções desencadeadas nos últimos dias em Michoacán, aparentemente em retaliação contra a prisão de Arnoldo Rueda, um chefe do cartel La Familia, 12 polícias federais foram mortos e os seus corpos abandonados, com as mãos atrás das costas e tiros na nuca, numa estrada recôndita.
O estado de Michoacán, de onde é natural o Presidente Felipe Calderón, é, há três anos, palco de uma guerra que opõe o Governo aos narcotraficantes e de disputa entre estes pelo controlo do tráfico de cocaína para os EUA. Foi o primeiro de um conjunto de estados para onde, desde o final de 2006, foram, segundo a AFP, deslocados 36 mil soldados e polícias.
O La Familia, que terá ramificações nas forças de segurança e políticas locais, adoptou um código de conduta quase religioso e proíbe os seus membros de consumirem drogas ou álcool. Tornou-se conhecido em Outubro de 2006, quando desconhecidos entraram num bar e lançaram para a pista de dança cinco cabeças humanas acompanhadas de uma mensagem. Na altura afirmava-se disposto a lutar contra o tráfico de droga, mas em seguida aliou-se com o cartel do Golfo, com o qual, segundo os media internacionais, mantém agora uma guerra sem quartel.
Um homem que se assumiu como um dos chefes operacionais do grupo, Servando La Tuta Gomez, tomou na quarta-feira uma iniciativa surpreendente, ao propor, numa estação televisiva de Michoacán, um "pacto" para evitar mais mortes, categoricamente rejeitado pelas autoridades.
A violência provocada pelos grupos de traficantes provocou, segundo os dados disponíveis, cerca de 12.800 mortes no México desde 2006, o que se tornou uma séria ameaça para o turismo e o investimento.
Contratos para os EUA
O esforço das autoridades mexicanas para combater o narcotráfico é uma oportunidade de negócio para empresas de segurança privada norte-americanas, que estão a competir por contratos de milhões em equipamento e treino de forças de segurança.
A Reuters noticiou que a maior parte dos 1400 milhões de dólares que os EUA ofereceram em 2007 ao México para ajudar a combater os cartéis irá para empresas dos EUA. Até agora só foi libertada uma "fatia" de 400 milhões de dólares (mais de 283 milhões de euros) e quase todo o dinheiro servirá para pagar a 30 a 40 empresas norte-americanas, segundo um funcionário da Embaixada dos EUA no México.
Apesar do investimento que o Governo de Calderón tem feito no combate ao tráfico, calculado em sete mil milhões de dólares, os meios dos polícias e militares são menos sofisticados do que o equipamento dos traficantes, que movimentam anualmente um valor estimado em 40 mil milhões de dólares (cerca de 28.300 milhões de euros).