Marine Le Pen, ou a extrema-direita que pode sonhar com o Eliseu

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Le Pen e a filha Marine: ele concorreu a cinco eleições presidenciais MIGUEL MEDINA/AFP

Jean-Marie Le Pen deixa este fim-de-semana a liderança da Frente Nacional, aos 82 anos. O novo chefe escolhido pelos militantes deverá ser a sua filha mais nova

Em 2012, Nicolas Sarkozy pode ter de enfrentar um Le Pen nas eleições presidenciais. Mas não será o velho tribuno da extrema-direita francesa e sim a sua filha Marine Le Pen, que um estudo de opinião publicado pela revista Marianne revela poder ter 18 por cento dos votos. O primeiro passo para isso será dado este fim-de-semana se, como tudo indica, Marine for designada a nova líder da Frente Nacional (FN), no congresso de Tours.

Marine Le Pen, uma soixante-huitarde, como gosta de se intitular (porque nasceu em 1968), traz uma nova estratégia: a da "desdiabolização" do partido de extrema-direita, introduzindo novas temáticas. Entre elas a defesa da laicidade e a luta contra a "islamização" de França, em vez da simples luta contra a imigração, ou a defesa de liberdades inéditas num partido que tem sido sobretudo masculino: direitos das mulheres, contracepção e uniões de facto.

"O que muda com ela são as posturas ideológicas: sobre a Segunda Guerra Mundial, a herança pétainista, o passado colonial de França. É uma ruptura geracional", disse ao jornal Libération Sylvain Crépon, investigador do Laboratório Sophiapol na Universidade Paris-Ouest-Nanterre. "Sobre o islão, ela está mais em linha com um Geert Wilders, da Holanda, do que com a velha guarda xenófoba e colonialista da FN."

Islão ao contrário

Durante a campanha para as eleições internas, frente a Bruno Gollnish, o outro vice-presidente, que durante muito tempo foi considerado o delfim de Jean-Marie, Marine gerou indignação ao comparar as orações dos muçulmanos nas ruas com a ocupação de França pela Alemanha nazi. "É uma ocupação de bairros em que se aplica a lei religiosa. Não há blindados, não há soldados, mas é uma ocupação e pesa sobre os habitantes", disse.

Em consequência destas palavras, Marine Le Pen está a ser alvo de um pré-inquérito policial, para determinar se há motivos para proceder judicialmente por incitamento ao ódio. Mas o estudo de opinião feito para a Marianne revela que 24 por cento dos franceses, independentemente da sua cor política, concordam com as posições dela sobre o islão. E 30 por cento apoiam a sua oposição à tolerância da imigração.

O barómetro TNS Soufres, publicado pelo jornal Le Monde, apontava como temas comuns da FN e da UMP, o partido da direita no poder, do Presidente Sarkozy, a defesa dos valores tradicionais e a insuficiente severidade da justiça face à pequena delinquência. E esse é um dos temas-bandeira de Marine Le Pen - e de que Sarkozy se apropriou, o que lhe permitiu ganhar as eleições de 2007. O resultado é que 46 por cento dos franceses concordam com as posições radicais da herdeira Le Pen sobre a segurança, segundo a sondagem de Marianne.

Logo a seguir, como possíveis unificadores da direita, vêm os temas como "há demasiados imigrantes em França" ou "o islão e os muçulmanos têm direitos a mais".

21 de Abril ao contrário

Esta combinação de interesses e preocupações produz um caldo que satisfaz as ambições da benjamim da família Le Pen, que nunca escondeu que a disputa da liderança da FN constituía uma espécie de primária para designar o candidato do partido às presidenciais de 2012. "Em causa está igualmente pronunciar-se sobre o projecto político que trago", disse ela.

As suas possibilidades como candidata presidencial, pelo que mostram as sondagens, não são más. Segundo o estudo da Marianne, oscilam entre 18 por cento (se o candidato socialista for Dominique Strauss-Kahn) e 17 por cento (se o socialista a ir às urnas for Martine Aubry), com um potencial de crescimento até 20 por cento.

São previsões mais elevadas do que os valores obtidos pelo seu pai a 21 de Abril de 2002 (16,86 por cento), quando conseguiu passar à segunda volta das eleições presidenciais, juntamente com Jacques Chirac, e eliminado o candidato socialista, Lionel Jospin.

Tanto a esquerda como a direita criaram uma espécie de cordão sanitário em torno da Frente Nacional, isolando-a dos partidos "normais". Mas, se a sua importância eleitoral atingir mesmo 20 por cento, será possível continuar a fazer isso? Sobretudo porque um número considerável de eleitores da UMP (43 por cento, quando em 2002 eram só 23) gostaria de ver alianças de governo com a FN.

Esse é o desafio para a sociedade francesa, e para a UMP, onde a palavra de ordem é fazer tudo para evitar "um 21 de Abril ao contrário", que ponha em causa a reeleição de Sarkozy.

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