Kim Jong-un, baptizado "Sol do século XXI", cimenta o seu poder na Coreia do Norte
Herdeiro de Kim Jong-il assume liderança do comité central e das Forças Armadas norte-coreanas. Estará a conseguir obter controlo dos mais importantes postos civis e militares
Com menos de 30 anos, Kim Jong-un é o mais jovem chefe de Estado com a força das armas nucleares nas mãos. Herdou do pai o poder na Coreia do Norte - mais ainda está a cimentar a sua autoridade, ainda não tem força suficiente para governar sozinho. Vai coleccionando títulos que revelam o poder que vai assumindo: ontem, a imprensa oficial chamou-lhe líder do comité central do Partido dos Trabalhadores - o que será o posto mais elevado na hierarquia partidária - e no sábado tinha sido já entronizado "chefe supremo" das Forças Armadas, com 1,2 milhões de soldados.
Os títulos são um pouco diferentes daqueles que tinha o seu pai, Kim Jong-il - que liderava o Partido dos Trabalhadores, o Exército do Povo Coreano e a Comissão Nacional de Defesa. Mas parecem ser-lhe equivalentes, diz a Associated Press.
"Dêmos as nossas vidas para proteger o comité central dirigido pelo querido camarada Kim Jong-un", dizia ontem o jornal Rodong Sinmun, órgão oficial do partido único da Coreia do Norte. Os coreanos são chamados a tornarem-se "camaradas eternos de Kim Jong-un", "Sol do século XXI" - uma linguagem codificada, já que o seu avô, Kim Il-sung, era conhecido como "Sol" da nação, e o seu aniversário era o "Dia do Sol".
Kim Jong-il era secretário-geral do comité central, e o artigo do Rodong Sinmun, diz a AFP, deixa entender que o seu filho deve herdar o cargo, disse à agência noticiosa francesa Kim Yong-hyun, professor na Universidade Dongguk, na Coreia do Sul.
Atentos ao funeral
Com os mais altos títulos civis e militares do país, Kim Jong-un deverá presidir amanhã ao funeral do pai, falecido a 17 de Dezembro, como o vértice do triângulo de poder que governa o país. Os outros dois lados são Jang Song-thaek, de 65 anos, que é na verdade cunhado de Kim Jong-il e também general de quatro estrelas, e o marechal Ri Yong-ho.Aliás as chancelarias e agências de informação de muitos países seguirão com muito interesse as cerimónias fúnebres de Kim Jong-il, em busca dos indícios de uma nova ordem na liderança norte-coreana, como dizia o Washington Post, traduzida no posicionamento que assumiam as várias figuras do regime. Aparentemente, quanto mais perto de Kim Jong-un, melhor. Mas o seu tio Jang Song-thaek, que pela primeira vez apareceu fardado na televisão este fim-de-semana, também parece ser detentor de grande poder, diz o New York Times. Depois do AVC sofrido por Kim Jong-il em 2008, Jang era considerado o segundo homem mais poderoso do país. Casado com a irmã do "querido líder", isso não o livrou de ter caído em desgraça e de ter passado pelos campos de reeducação, em 2004. Mas foi recuperado em 2007, e ficou com a administração da polícia e da justiça.
Para Ken Gause, do Korea Economic Institute, é este homem de 65 anos - e não o jovem de quem se sabe gostar de filmes de Jean Claude Van Damme - que "representa o elemento imprevisível no processo de transição". O seu apoio", diz Gause, "será vital para o reforço do poder do sobrinho mas, a longo prazo, pode representar um obstáculo para Kim Jong-un".