Bissau prende presumível autor de contragolpe e exige explicação de Lisboa

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O capitão N"Tchama foi apresentado em Bissau envolto na bandeira portuguesa AFP

Capitão Pansau N"Tchama foi detido. Temem-se novas perseguições a adversários políticos dos militares que afastaram Gomes Júnior

O poder saído do golpe de Estado de Abril na Guiné-Bissau exigiu ontem ao Governo português "uma explicação clara e justificada" sobre a "expedição terrorista" do capitão Pansau N"Tchama, sob pena de "rever as suas relações com Portugal". O militar é acusado de ter liderado, há uma semana, um ataque a uma base militar.

A exigência foi feita num comunicado, lido pelo ministro porta-voz das actuais autoridades, Fernando Vaz, e citado pela Lusa. O Ministério dos Negócios Estrangeiros português tem recusado comentar as repetidas acusações de Bissau.

Envolto numa bandeira de Portugal, Pansau N"Tchama foi apresentado sábado à noite em Bissau como tendo sido detido. As autoridades apoiadas pelo poder militar têm repetido que esteve nos últimos anos em formação militar em Portugal.

O facto de N"Tchama, cuja detenção terá ocorrido em Bolama, ter sido exibido com uma bandeira portuguesa foi imediatamente entendido como uma forma de dar força à tese de que Portugal estaria envolvido no que foi apresentado em Bissau como uma tentativa de contragolpe.

O actual poder, instaurado na sequência do afastamento pela força do primeiro-ministro Gomes Júnior, acusa o chefe do executivo eleito, Portugal e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) de serem os instigadores da acção contra a base, perto do aeroporto de Bissau, em que morreram sete pessoas - seis atacantes, todos da etnia felupe, e uma sentinela.

Afastar CPLP

Esta argumentação é considerada por observadores da situação político-militar guineense como tendo o objectivo de inviabilizar o envolvimento da CPLP e das Nações Unidas numa solução política para a Guiné-Bissau. No comunicado de ontem, as autoridades de transição manifestam "reservas nas suas futuras relações com a CPLP".

Numa conferência de imprensa, também ontem, o porta-voz do Estado-Maior General das Forças Armadas, tenente-coronel Daba Na Walna, insistiu no envolvimento de Portugal, dizendo que Lisboa "não cuidou bem da vigilância" de N"Tchama, que teria circulado entre Portugal e a Gâmbia. O militar repetiu que o ataque à base de pára-comandos, os Bóinas Vermelhas, foi preparado no exterior. Mas introduziu um dado novo, ao acusar o ex-chefe de Estado Maior Zamora Induta - um rival de António Indjai, líder do golpe militar de Abril - de orquestrar o ataque da semana passada. Pansau N"Tchama, um balanta, etnia dominante nas Forças Armadas, já foi apresentado como amigo de ambos. É considerado um dos executores de João Bernardo Vieira, Nino, Presidente da Guiné-Bissau, morto em 2009.

O ataque à base de pára-comandos, no dia 21, é visto por opositores do golpe de Abril, e por analistas, como uma encenação para justificar perseguições a adversários, ocorridas nos dias seguintes: dois destacados adversários do poder militar - Iancuba Indjai e Silvestre Alves - foram sequestrados durante horas, na segunda-feira, espancados e mais tarde abandonados.

Uma fonte que o PÚBLICO ontem contactou telefonicamente, em Bissau, e que pediu para não ser identificada por razões de segurança, chamou a atenção para o facto de Pansau N"Tchama, que teria sido detido dois dias antes, não apresentar sinais de maus tratos, ao contrário do que tem acontecido noutras situações com detidos. E manifestou o receio de que, na sequência da detenção de sábado, e após o interrogatório ao militar, haja uma nova vaga de perseguições.

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