Trump a presidente? Não é uma piada

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Donald Trump com a mulher, Melania, numa recepção em Nova Iorque BRENDAN MCDERMID/REUTERS

Uma parte da América acredita que precisa de um magnata desbocado para endireitar o país. Donald Trump parece interessado - e isso inclui acusar Obama de não ser americano

É oficial: a política americana é um reality show. E desta vez Sarah Palin está inocente. Donald Trump, famoso por erguer torres fálicas com o seu nome e despedir pessoas num programa de televisão, pondera candidatar-se à Casa Branca em 2012 (pergunta: resistirá a rebaptizá-la de Trump House, como faz com tudo aquilo em que toca?).

O milionário diz que não confirma nem desmente antes de terminar a actual temporada do seu reality show Celebrity Apprentice, mas poderá usar o último episódio, a 22 de Maio, para anunciar uma conferência de imprensa onde revelará as suas intenções presidenciais. Chega para lá, Palin.

Uma disputa Obama-Trump? O professor de Harvard e o magnata rufia? Já há jornalistas deliciados com a perspectiva: uma campanha eleitoral com Donald Trump, com o estilo sem papas na língua de Trump, com o cabelo de Trump - uma popa desafiando a gravidade como a pala do Pavilhão de Portugal de Álvaro Siza - jamais poderá ser aborrecida.

Trump tem um apelo popular que o distante e cerebral Obama, com os seus pergaminhos elitistas, nunca poderá reclamar: ele representa o fascínio da América pelo dinheiro e o sucesso. Dito de outro modo: os americanos não querem ser o tipo mais inteligente na sala; querem ser o tipo mais rico.

Autopromoção

O interesse de Trump numa candidatura tem sido recebido, de forma generalizada, como um exercício de Trump l"oeil: um ego monstruoso a agarrar uma oportunidade para se auto-promover. Karl Rove, que também pode ser acusado de nunca revelar as suas verdadeiras intenções, disse que a candidatura é uma "piada".

Trump está a causar nervosismo no Partido Republicano porque é o coelho que saiu da cartola (quando o ilusionista não estava a olhar) e roubou a cena a outros potenciais candidatos (Tim quem Pawlenty? Mitch Daniels? Haley Barbour? Nomes que a maioria dos americanos não consegue pronunciar sem alguma, ou na totalidade, ajuda.). Trump não exclui uma candidatura independente, mas fez saber que o ideal seria ganhar a nomeação do Partido Republicano.

"Porque eu sou um tipo muito conservador. E penso que tiraria 99,9 por cento dos votos ao Partido Republicano, coisa que não quero fazer", disse há dias.

Na última semana, as sondagens deram Trump como favorito da opinião pública, à frente de todos os potenciais candidatos republicanos, mesmo os mais populares, como Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas e estrela da Fox News, Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts, ou Sarah Palin. Galvanizado pelos números, multiplicou-se em aparições e fez declarações que, verbalizadas por outra pessoa, seriam desacreditadas ou polémicas - como a ideia de que os EUA deviam simplesmente apropriar-se do petróleo iraquiano, caso contrário a guerra e as baixas militares terão sido em vão. "Não se trata de roubar. Trata-se de um reembolso", explicou no programa Good Morning America, na ABC.

Outro pequeno vislumbre da diplomacia internacional sob a presidência de Trump? "A Líbia só me interessa, se ficarmos com o petróleo."

Nem toda gente se riu ao ver essas entrevistas em que Trump exibe a sua esperteza de rua e fustiga temas inconvenientes com uma subtileza de mafioso. ("Não faça uma pergunta tão estúpida como essa, é ridículo. Adiante", respondeu a uma jornalista do Wall Street Journal que se referiu ao facto de ele ter declarado falência "múltiplas vezes" e personificar, para uma parte da opinião, o pior do capitalismo.)

Pelo contrário, esta foi a semana em que o aviso foi repetido: a candidatura de Trump é para levar a sério. "Sempre houve uma grande porção de eleitores que acreditam que a América poderia inverter o seu declínio, se um durão que diz inconveniências sem rodeios tomasse conta [do país]. E hoje, aparentemente, Donald Trump é o homem para isso", escreveu o colunista do New York Times David Brooks.

Oportunidade de negócio

Trump, que em 2009 publicou um livro, Think Like a Champion, em que elogia os feitos "fabulosos" e "fenomenais" de Obama, defende agora que ele é o pior Presidente americano de todos os tempos. Como diz uma das frases de promoção do seu reality show: "Não é nada pessoal... it"s just business."

Trump foi ao ponto de reavivar a teoria do birtherism, que põe em causa a legitimidade presidencial de Obama, insistindo que ainda não provou ter nascido nos Estados Unidos. Como homem de negócios, ele reconhece uma oportunidade quando a vê: mais de um terço dos eleitores republicanos não acreditam que Obama tenha nascido nos EUA. Mas nenhum dos candidatos potenciais, à excepção de Trump, parece disposto a explorar o assunto por ser considerado demasiado extremo, e poder veicular uma imagem radical do partido. O milionário diz ter enviado investigadores privados para o Havai e que "eles não acreditam nas descobertas que têm feito".

Para já, a reacção do Partido Republicano parece indicar que Trump é visto como um empecilho, mais do que um candidato apetecível. Mas nos últimos dois anos, o Tea Party - outra força populista indesejada mas tolerada porque ressuscitou o partido em tempo recorde - provou que isso não é necessariamente o fim da história.

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