Relatório denuncia tortura sistemática nas prisões

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Milhares de opositores síriosestão presos

De choques eléctricos ao uso de tenazes para retirar carne, passando por exposição a frio intenso ou privação de sono, a Amnistia Internacional detalhou, num relatório publicado ontem, a tortura sistemática feita pelas forças de segurança nas prisões sírias.

A gravidade dos abusos deveria levar a Síria ao Tribunal Penal Internacional, defendeu a organização de defesa de direitos humanos. Esta decisão só poderia, no entanto, ser tomada por decisão do Conselho de Segurança da ONU, onde qualquer resolução criticando o regime sírio tem esbarrado na oposição da Rússia e da China.

O relatório Queria Morrer: Sobreviventes de Tortura Falam tem várias descrições de abusos relatados por pessoas que entretanto fugiram para a Jordânia. O título vem do testemunho de Al-Shami, que esteve detido sete semanas, 24 dias dos quais em isolamento, em Novembro do ano passado. "Era uma cela de 2x2 metros, com um tecto alto. Disseram-me "o teu nome é 23", porque estava na cela 23. Com o tempo, comecei a odiar este local. Pensei subir as paredes e deixar-me cair para me matar", contou Al-Shami (nome fictício, como todos os do relatório), um engenheiro civil de 40 anos e activista de Damasco.

Os espancamentos eram comuns, com cabos, com barras de metal, com a coronha da Kalashnikov. "Fui brutalmente espancado", disse Karim, um estudante de 18 anos. "Depois usaram tenazes para tirar carne das minhas pernas."

A violação de Khalid

Um dos detidos descreveu tortura com choques eléctricos: "Havia três cadeiras na sala da tortura, de metal, com correias para os pulsos e os tornozelos", relatou Ghazi, 22 anos, que foi detido quando ia para um hospital de Deraa para tratar um ferimento provocado numa manifestação. "Ligam um interruptor e a electricidade sobe. Algumas pessoas perdem logo a consciência. Se não, eles fazem-no novamente, cerca de três segundos de cada vez. A boca enche-se de saliva. Urina-se. Fazem isto até se desmaiar. Alguns vão logo para o hospital."

Um dos tipos de tortura usados é o do tapete voador: o detido é deitado num pedaço de madeira dobrável, de barriga para cima. "Não sei como, as extremidades sobem", disse Ghazi. "O corpo é forçado a uma posição de V o que causa dores terríveis nas costas. Ao mesmo tempo, batiam-me". O processo é lento. Os torturadores iam fazendo pausas. "Bebiam chá, fumavam um cigarro. Depois começavam de novo."

Por vezes os detidos viam ou ouviam a tortura dos outros. "Estava na parte de trás [de uma sala de interrogatório], por isso não conseguia ver bem o Khalid, mas puxaram as suas calças para baixo. Depois o guarda violou-o contra a parede. O Khalid chorou durante a violação, batendo com a cabeça na parede." Outro detido, Musleh, 29 anos, disse que estava numa cela em que ouvia "os gritos dos que eram torturados, 24h por dia".

Abu Al-Najem, 40 anos, de Deraa, conta que ficou numa cela com o que parecia ser um cadáver: "A cela estava escura. Pensei que estava alguém deitado ao meu lado, por isso estiquei a mão para lhe tocar e senti um saco de plástico. Penso que tinha um cadáver dentro. Fiquei ali algum tempo, penso que terão sido dois dias."

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