Oposição russa escolhe o nacionalista Alexei Navalni como líder em votação online
Os dissidentes do Kremlin quiseram mostrar que não acreditam nas eleições e fizeram o seu próprio voto
É ao mesmo tempo um sinal de desconfiança nos processos eleitorais russos e uma tentativa de unir os esforços da oposição ao Presidente Vladimir Putin em torno de um único líder: mais de 80 mil russos, dissidentes do Kremlin, escolheram num sufrágio online uma nova liderança, e quem ganhou foi o nacionalista e autoproclamado "cruzado contra a corrupção" Alexei Navalni.
Catapultado para a popularidade no último par de anos, e em particular desde as manifestações maciças que se seguiram às eleições legislativas de Dezembro de 2011 e às presidenciais de Março de 2012 - em que a Rússia assistiu a uma vaga de contestação ao regime sem paralelos nas décadas mais recentes -, Navalni é um advogado de 36 anos que conquistou fiéis seguidores no seu blogue, através do qual denuncia práticas de fraude cometidas ao mais alto nível no aparelho de Estado.
O Wall Street Journal descreveu-o como "o homem que Putin mais teme" e a BBC como "consensualmente a única grande figura de oposição a surgir na Rússia nos últimos cinco anos". Navalni, aliás, foi o único russo a ser nomeado na lista da revista Time das cem pessoas mais influentes no mundo em 2012.
Tido como abertamente hostil a Putin, abraça o que descreve como um "liberalismo sem inspirações ocidentais" e é tido como um "nacionalista moderado", recusando todas as tentativas de ser "enfiado no mesmo saco" que os supremacistas nacionalistas russos. "Jamais consideraria alguém "segunda classe"", defendeu-se numa troca de emails com o escritor liberal Boris Akunin, depois de ter sido libertado ao fim de dez dias de pena cumpridos pelo crime de desacatos cometidos nos primeiros protestos contra os resultados das legislativas de 4 de Dezembro de 2011, que deram a vitória ao partido Rússia Unida, de Putin e Medvedev.
Noutras declarações públicas pelos finais de 2011 deixou claro, porém, que é a favor de políticas contra a imigração mais duras e não é raro ouvi-lo argumentar que as repúblicas do Cáucaso, arrasadas pelas guerras independentistas, deviam ser "tratadas como uma espécie de Faixa de Gaza da Rússia", politicamente isoladas e com uma redução drástica dos fundos que recebem do Kremlin.
Apesar desta linha conservadora nacionalista, Navalni parece ter encontrado o "isco" certo para a sociedade russa e em especial entre os dissidentes do regime de Putin: já por altura da vaga de protestos que se seguiram aos sufrágios, foi o mais votado online para discursar na manifestação maciça da véspera de Natal em Moscovo.
Agora foi o vencedor no sufrágio feito através da Internet ao longo de três dias, no qual participaram 81.801 pessoas. Este voto "deixou claro que pessoas, que métodos e qual a ideologia que tem maior apoio", sublinhou o advogado, que defende dar prioridade à luta por reformas eleitorais na Rússia.
Desta eleição saiu também a composição dos 45 assentos no Comité de Coordenação da oposição (30 para activistas não filiados partidariamente e cinco para cada uma das três facções políticas no movimento), a que concorreram mais de 200 candidatos, e para o qual foram escolhidos - pelo maior número de votos - o escritor e colunista Dmitri Bikov, o antigo campeão mundial de xadrez e líder do movimento de oposição Solidarnost Garry Kasparov, a socialite e apresentadora de televisão Ksenia Sobtchak, filha do antigo presidente da câmara de São Petersburgo, e ainda o ex-primeiro-ministro Boris Nemtsov e o líder do grupo Frente de Esquerda Serguei Udaltsov.
Apesar de esta eleição ter sido feito com uma pequeníssima fracção dos mais de 109 milhões de eleitores na Rússia, a oposição russa crê que a escolha do novo líder poderá renovar as forças do movimento de contestação ao regime e relançar o desafio a Putin.