O museu russo que chegou a estar de malas feitas para Lisboa abre hoje uma filial permanente em Amesterdão
a O museu russo que Isabel Pires de Lima quis instalar em Portugal - e com o qual o Ministério da Cultura (MC) flirtou, entre 2005 e 2008 - abre hoje um satélite permanente em Amesterdão. O novo pólo do Hermitage constitui um regresso simbólico de Pedro, o Grande (1672-1725) à cidade que mudou a vida do imperador russo: "Pedro, o Grande veio à Holanda aprender a construir barcos e acabou a transplantar o plano de Amesterdão para São Petersburgo", sublinhou Ernst Veen, o director do Hermitage-Amesterdão, na visita guiada de anteontem para a comunicação social.
Com nove mil metros quadrados de superfície (menos de um décimo do Hermitage russo), um auditório, um centro de estudos e um Hermitage para crianças, o novo pólo do museu fundado em 1764 por Catarina II é uma lança da diplomacia russa na Europa, mas não necessariamente no sentido mais redutor do termo.
"A abertura desta filial não serve para dar uma melhor imagem da Rússia - serve para dar uma imagem mais complexa da Rússia. Queremos mostrar em que é que a Rússia faz parte da Europa, e em que é que não tem nada a ver com ela", explicou o director do Hermitage de São Petersburgo, Mikhail Piotrovski - o mesmo que interrompeu as negociações com o MC português em 2008, acusando-o de ter maltratado "uma das melhores [exposições] que o Hermitage fez na Europa" (De Pedro, o Grande a Nicolau II: Arte e Cultura do Império Russo nas Colecções do Hermitage, que esteve na Galeria D. Luís I do Palácio Nacional da Ajuda entre Outubro de 2007 e Fevereiro de 2008) e de não ter feito o museu russo sentir-se "realmente desejado".
Instalado num antigo asilo do século XVII, o novo satélite do Hermitage vai acolher em regime de rotatividade as extraordinárias colecções de uma das maiores pinacotecas do mundo (o Hermitage de São Petersburgo fica atrás do Louvre apenas por alguns metros quadrados e possui mais de três milhões de peças adquiridas pelos czares ao longo dos séculos).
A primeira exposição da história do novo museu, A Corte Russa, Palácio e Protocolo no Século XIX, foi ontem oficialmente inaugurada pela rainha Beatriz e pelo Presidente russo, Dimitri Medvedev. A próxima trará a Amesterdão obras de Braque, Matisse e Picasso.
A par de investimentos como a abertura da nova filial em Amesterdão e o upgrade da presença do Hermitage na Internet, o museu continua a apostar numa política de internacionalização assente num programa de exposições itinerantes. Portugal devia ter recebido três dessas exposições, de acordo com o protocolo assinado em 2005, mas, apesar dos seus 105 mil visitantes, a experiência de 2007 acabou por ser o princípio e o fim de uma bela amizade.