O adeus do mundo a Ronald Reagan
A América disse ontem adeus a Ronald Reagan numa cerimónia com honras de estado na presença de dirigentes de todo o mundo. A Catedral Nacional, em Washington, recebeu 2100 convidados que ouviram o Presidente George W. Bush, responsável por um dos elogios fúnebres, lembrar Reagan, o homem que governou os Estados Unidos entre 1981 e 1989, como "um grande homem, um líder histórico e um tesouro nacional".Última personalidade a prestar homenagem ao 40º presidente dos Estados Unidos, Bush resumiu a sua vida como "uma grande história americana". Ele "agora pertence à História mas nós preferíamos quando ele nos pertencia", acrescentou o Presidente, saudando "o optimismo", a defesa da "liberdade de agir" e o seu sentido "de acção". "Ele acreditava que as pessoas eram naturalmente boas e tinham o direito de serem livres. Ele acreditava que a América não era apenas um local sobre a terra mas a esperança do mundo".Antes de Bush filho falou Bush pai. Antigo vice-presidente de Reagan, seu sucessor na presidência e adversário derrotada na nomeação republicana de 1980, Bush, que faz hoje 80 anos e a quem Reagan pediu em vida para que falasse no sei funeral, lembrou tudo o que diz ter aprendido com o companheiro de partido."Talvez mais importante que tudo, aprendi muito sobre o humor, muito sobre o riso. E como o Presidente Reagan adorava uma boa história", recordou Bush, que disse ainda ter aprendido muito sobre delicadeza, coragem e decência. "Aprendi mais com Ronald Reagan do que com qualquer outra pessoa que tenha encontrado nos anos de vida pública. Os políticos podem ser cruéis e incivilizados. O nosso amigo era forte e gentil."No funeral estiveram 25 actuais chefes de estado e de Governo, 14 ministros dos Negócios Estrangeiros e 11 antigos chefes de estado. Todos os ex-presidentes americanos vivos - Gerald Ford, Jimmy Cárter, e Bill Clinton, para além de George Bush - marcaram presença. Sentados lado a lado estiveram a ex-primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, e Mikhail Gorbatchev, o último líder da União Soviética que com Reagon protagonizou memoráveis cimeiras na década de 80. Desaconselhada pelos médicos a falar em público, a alma gémea ideológica pré-gravou uma mensagem de sete minutos em que disse ter perdido "um amigo querido". "Ele ganhou a Guerra Fria. Não apenas sem disparar uma única bala, mas também convidando um inimigo a sair da sua fortaleza e transformando-o em amigo", sublinhou a baronesa de 78 anos.Cerimónia de alto riscoPara além da contribuição para o fim pacífico da Guerra Fria, os seus defensores sublinham o que fez pela confiança americana, o combate contra a inflação e a evolução económica. Os críticos lembram os programas de apoio aos mais pobres a que pôs fim e o apoio dado a líderes radicais na América Central.O dia de luto nacional que pôs fim a uma semana de homenagens ficou marcado pelo momento em que armas em todas as bases com forças americanas no mundo dispararam - ao meio-dia em ponto. Antes do início do cortejo em direcção à Catedral, Nancy Reagan despediu-se do marido de 52 anos, beijando a urna num momento transmitido em directo pela televisão. Depois, ao lado dos três filhos de Reagan, a antiga primeira-dama acompanhou a saída do Capitólio.De regresso à CalifórniaMilhares de pessoas enchiam as ruas onde apertadas barreiras de segurança tinham sido instaladas. Dezenas de milhares já tinham passado desde quarta-feira pela sede do Congresso. E antes disso, mais de 100.000 fez o mesmo na Califórnia, onde Reagan faleceu dia 5, aos 93 anos. O dia de luto nacional - com administrações federais e mercados financeiros encerrados - foi vivido em Washington entre medidas de segurança excepcionais. Cinco mil agentes de departamentos policiais e agências de segurança foram mobilizados. Quinta-feira o avião que transportava um dos convidados perdeu momentaneamente o contacto rádio e violou a aérea de exclusão aérea em redor de Washington. "Têm um minuto para o impacto", disse a polícia à multidão que se concentrava junto ao Capitólio enquanto ordenava o abandono da zona, no que alguns descreveram como a mais alarmante evacuação desde o 11 de Setembro.Depois de uma última homenagem a bordo do Air Force One presidencial que o levou de regresso à Califórnia, Ronald Reagan foi a sepultar junto ao seu museu e biblioteca de Simi Valley.