Mohamed Morsi é o primeiro Presidente civil da história do Egipto

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Houve fogo-de-artifício na Praça Tahrir para comemorar a eleição do candidato da Irmandade Muçulmana AMR ABDALLAH DALSH/REUTERS

Depois de uma semana de impasse, o candidato da Irmandade Muçulmana foi confirmado como vencedor das presidenciais, deixando em delírio os seus apoiantes concentrados na Praça Tahrir

Quinhentos dias depois da deposição de Hosni Mubarak, o Egipto conheceu um novo Presidente: Mohamed Morsi, o candidato apoiado pela Irmandade Muçulmana, foi ontem declarado o vencedor da segunda volta, com 51,73% dos votos. Será o primeiro islamista e o primeiro Presidente civil do país, que até agora foi governado ou por reis, ou por imperadores, ou por generais.

A Praça Tahrir do Cairo explodiu em êxtase e cânticos de "Deus é Grande" assim que o responsável da Comissão Eleitoral, Farouq Sultan, confirmou a vitória de Morsi, com 13,2 milhões de votos num total de 26 milhões. O seu adversário Ahmed Safiq, um ex-general que foi primeiro-ministro durante o regime de Mubarak, obteve 12,3 milhões, correspondentes a 48% do total.

Com lágrimas nos olhos, um manifestante da Praça Tahrir explicava à reportagem da BBC que a vitória de Morsi consagrava aquilo a que chamava revolução islamista do Egipto. "Esta é uma vitória 100% nossa. Esta revolução é 100% nossa: agora temos verdadeiramente liberdade", gritava para as câmaras. Mas Morsi, que tomará posse no dia 1 de Julho, prometeu tornar-se o "Presidente de todos os egípcios" e promover a "estabilidade, justiça e prosperidade", depois de um ano de tumultos.

Os Estados Unidos, ao mesmo tempo que deram os parabéns a Morsi, sublinharam a importância de uma governação inclusiva, e que respeite os direitos das mulheres e minorias reliosas, como os cristãos coptas.

O anúncio dos resultados, uma semana após a votação, terá evitado uma crise imediata no Egipto, mas não disfarçou a polarização da sociedade e a divisão do país - Sultan ainda não completara a sua declaração e já metade da plateia que acompanhava a conferência de imprensa estava de pé, esbracejando em gritos de protesto.

Na sede de campanha de Ahmed Shafiq - que ontem não se pronunciou - os seus apoiantes não se coibiam de acusar o Conselho Superior das Forças Armadas de ter negociado a atribuição da vitória aos islamistas, alegadamente desrespeitando a vontade dos eleitores. No subúrbio de Nasr City houve escaramuças entre apoiantes de Shafiq e manifestantes islamistas, com os primeiros a gritar "Salvem o Egipto, a Irmandade Muçulmana vai destruir o país" aos polícias e soldados destacados para garantir a segurança na capital.

Apesar das eufóricas celebrações dos apoiantes de Morsi na praça Tahrir (e por todo o Egipto), muitos activistas políticos egípcios e analistas internacionais notavam que, por mais histórico que fosse o resultado das presidenciais, a constituição de um governo civil no Egipto permanecia "um desafio". "Esta vitória não muda a realidade do Egipto, onde o Parlamento foi dissolvido, a lei marcial reinstalada e uma Constituição interina imposta pelos militares", assinalava o director do centro de Doha da Brookings Institution, Shadi Hamid.

Na véspera das presidenciais, o Conselho Supremo das Forças Armadas determinou a dissolução do Parlamento, na sequência da invalidação das legislativas pelo Supremo Tribunal Constitucional. E no dia em que fechavam as urnas, a junta militar que governa o país desde a queda de Mubarak - e foi encarregue de organizar a transição para um regime democrático - anunciou a entrada em vigor de uma Constituição "interina", que limita os poderes presidenciais e concede aos generais a autoridade para aprovar leis.

O líder militar, o marechal Hussein Tantawi, cumprimentou o vencedor das eleições, anunciou a televisão estatal egípcia, sem mais detalhes. Os generais garantiram que respeitarão o calendário para a entrega de poder ao Presidente eleito, mas depois das manobras da semana passada, o Egipto corre o risco de ter um novo governo sem Parlamento nem Constituição.

Mohamed Morsi, um engenheiro de 60 anos, com um doutoramento nos EUA e filhos norte-americanos, foi várias vezes preso pelo regime de Mubarak após o regresso ao Egipto. Em 2000, foi eleito deputado por um partido independente (até 2005). Assumiu a liderança do Partido Justiça e Liberdade, braço político da Irmandade Muçulmana, que saiu da clandestinidade com a revolução do Egipto, em Fevereiro de 2011.

Depois de ter sido declarado vencedor, Morsi demitiu-se de todos os cargos na irmandade Muçulmana, como prometera durante a campanha eleitoral, garantindo ao país que constituirá um Governo de representatividade alargada, que incluirá islamistas, cristãos e seculares.

"Começou uma nova era no Egipto e no mundo árabe", anunciava pelo Twitter a Irmandade Muçulmana, quando Farouq Sultan leu o nome de Morsi seguido da palavra Presidente e os primeiros foguetes subiam ao céu na Praça Tahrir.

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