Lula da Silva reafirma que não mudará a sua política económica
Ministério Público pediu prisão preventiva e 225 anos de cadeia para António Palocci, ex-ministro da Fazenda
O Presidente reeleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, desautorizou o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, segundo o qual a "era Palocci" tinha terminado. O negociador político de Lula quis daquela forma sinalizar que seria empreendida uma mudança de rumo económico no novo Governo do Partido dos Trabalhadores (PT), com um afastamento das políticas desenvolvidas pelo ex-ministro da Fazenda (Finanças).Em várias entrevistas dadas na segunda-feira à noite, Lula da Silva fez questão de desdizer as palavras de Tarso - que provocaram de imediato agitação no mercado financeiro. Foram "uma produção independente", sublinhou Lula, garantindo que as medidas de "política fiscal responsável e de metas da inflação" serão mantidas nos próximos quatro anos. O Presidente arrumou o assunto chamando a si a responsabilidade pela política económica: "Não teve era Palocci, como não tem era Guido Mantega [actual ministro da Fazenda]".
Antonio Palocci continua a ser visto como grande obreiro da estabilidade económica conseguida no primeiro mandato de Lula e só foi afastado, em Março, na sequência da quebra de sigilo bancário de uma testemunha incriminatória no processo em que o ex-ministro é acusado de peculato praticado quando foi perfeito de Ribeirão Preto. Sobre ele, aliás, pende um pedido do Ministério Público de prisão preventiva e 225 anos de cadeia.
Lula da Silva tentou também pôr fim aos rumores que apontavam para substituições na pasta das Finanças, mas não foi claro. "Na convocação da selecção e dos ministérios todo o mundo acha que tem que dar palpite. Mas o Presidente sou eu e quem troca de ministro sou eu. O meu ministro da Fazenda é Guido Mantega e continuará a ser até eu querer".
Desde o rescaldo eleitoral já foram iniciados os primeiros contactos para formação do novo Governo. Lula reuniu-se ontem com os governadores de estados-chave, como Pernambuco (nas mãos do Partido Socialista Brasileiro, que já fala abertamente em participar no núcleo governamental) e Rio de Janeiro (PMDB). Convidou também para uma reunião o muito influente governador social-democrata de Minas Gerais, Aécio Neves, que respondeu com um "conte sempre comigo".
Para os próximos dias estão agendados encontros com as cúpulas dos partidos que lhe estão mais próximos - PSB e Partido Comunista do Brasil, e o próprio PT que quer selar uma "reaproximação" ao Presidente - e também com os progressistas (PP), o Partido Democrático Trabalhista e o Partido Trabalhista Brasileiro, estes três últimos de tendências mais chegadas à direita.
PT perde espaçoDo PMDB, que detém a maior bancada no Congresso e que Lula quer transformar na principal âncora da aliança de Governo, chegou o sinal de que o partido está empenhado na coesão interna em torno de um "documento programático" para levar ao Presidente.
Lula, aliás, já afirmou que o seu PT vai perder espaço no novo Executivo, muito embora mantenha alguns dos mais importantes ministérios: a Fazenda, mas também as Relações Institucionais, que o Presidente considera bem entregue, a Casa Civil, onde se deverá manter Dilma Roussef, e ainda o Planeamento, o Desenvolvimento Social e o Trabalho.
Para viabilizar o pretendido Governo "de coligação", Lula oferecerá um programa de mandato de entendimento com todos os partidos que se dispuserem a fazer parte da base de apoio do Presidente no Congresso.
Segundo Tarso Genro, não está tão pouco afastada a retoma de conversações com o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, figura de topo do PSDB: "Não temos dúvidas de que o diálogo é possível e necessário para o país."