Humala e Fujimori avançam para a segunda volta nas eleições presidenciais do Peru
Candidato esquerdista foi o mais votado no domingo. Direita deve unir-se para derrotá-lo em Junho
O nacionalista de esquerda Ollanta Humala venceu a primeira ronda das eleições do Peru e disputará a Presidência numa segunda volta contra a congressista Keiko Fujimori, a filha do antigo Presidente Alberto Fujimori, actualmente na cadeia por crimes de corrupção e violações dos direitos humanos.
Humala foi o concorrente preferido na votação de domingo, obtendo 29,3 por cento. A luta pelo segundo posto, e o acesso à segunda volta, marcada para 5 de Junho, foi bastante renhida. Com 22,9 por cento, Keiko Fujimori, que aos 35 anos é a candidata mais jovem de sempre, acabou por suplantar o antigo primeiro-ministro Pedro Pablo Kuczynski (21,1 por cento), que nos dias finais de campanha recebera o apoio formal do Presidente cessante, Alan Garcia.
Humala e Fujimori eram os dois candidatos mais polémicos na corrida à Presidência, pelo que está garantida uma campanha animada. "Ollanta é mais perigoso, mas Keiko também tem muitos problemas", comentou ontem Kuczynski, que não anunciou a sua preferência.
A liderança de Humala assenta na insatisfação e descontentamento das camadas mais desfavorecidas da população, que, apesar do impressionante crescimento económico do Peru a taxas de sete por cento, continuam a viver na pobreza, com menos de dois dólares por dia.
O ex-militar de 47 anos prometeu uma mais justa redistribuição da riqueza sem, contudo, pôr em causa os acordos de livre comércio ou os contratos com multinacionais assinados pelo Governo do Peru - um discurso bem mais moderado do que aquele que apresentou em 2006, mas que, ainda assim, assusta os investidores internacionais (desde que Humala passou para a frente nas sondagens, a Bolsa de Valores de Lima e a moeda peruana não pararam de se desvalorizar).
A filha do ex-Presidente é uma populista de direita, que se apresenta com um programa duro de combate ao tráfico de droga e à violência. Teoricamente, Keiko sairá beneficiada pelo voto útil do eleitorado de centro-direita, que dispersou o seu voto na primeira volta.
No entanto, a união contra Humala não está garantida, tanto por mérito do reposicionamento do candidato esquerdista como um moderado ao estilo do brasileiro Lula da Silva como por demérito da herança do "fujimorismo": autoritarismo, corrupção, crise económica, desemprego...
O antigo Presidente Alejandro Toledo, que ficou em quarto lugar, interpretou a votação como "um sério aviso à navegação". "O modelo de desenvolvimento do Peru claramente não está a funcionar para uma vasta margem da população", observou.