Capriles, o rosto da nova oposição
Os seus apoiantes chamam-lhe "El Flaco" ou "El Flaquito", que quer dizer o magro ou o magrinho. Hugo Chávez chama-lhe "o majunche", traduzível por "o perdedor". Ele apresenta-se como David em luta contra Golias. A imprensa anda com ele ao colo. Henrique Capriles Radonski é jovem, enérgico, nunca perdeu uma eleição. Vem da "outra" Venezuela, a que foi à universidade e faz férias no estrangeiro. A sua história de família também pode inspirar.
Os bisavôs foram assassinados no campo de concentração de Treblinka, na Polónia. Durante 20 meses, a avó, Lili Bochenek, refugiou-se da fúria dos nazis num sótão do Gueto de Varsóvia. Os avós chegaram à Venezuela em 1947, de bolsos vazios. Vieram de barco, como tantos outros judeus, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, e, depois deles, tantos católicos oriundos de Portugal, Espanha e Itália. O avô abriu uma sala de cinema, no Leste do país. O negócio prosperou. Acabou por se tornar uma das principais cadeias de cinema do país.
Nem só por eles Capriles cresceu numa das mais abastadas famílias da Venezuela. O lado paterno sobressai no imobiliário e nos media. Entre os títulos da Cadena Capriles estão o Ultimas Noticias, um diário popular de circulacão nacional, e El Mundo, Economía y Negocios, uma plataforma informativa, que produz conteúdos em papel, Internet, rádio e televisão.
Teve uma educação católica, apesar da origem judia. Estudou Direito na Universidade Católica Andrés Bello. E foi lá que se especializou em direito económico.
A política cedo se tornou parte da sua vida. Aos 25 anos, foi eleito deputado pelo estado de Zúlia nas listas do COPEI. Embora muito jovem, escolheram-no para presidente da Câmara de Deputados e vice-presidente de todo o Parlamento. Saiu logo em 1999, por força da Constituinte, que extinguiu o Congresso e criou a Assembleia Nacional. Debateu-se então pelo município de Baruta, um dos redutos da classe média alta e alta de Caracas. Em 2000, foi eleito com 60% dos votos e em 2004 reeleito com quase 80%.
Muito marchou contra Hugo Chávez nas ruas da capital. No pico de crise de 2002 - o ano do golpe, do contra-golpe e da paralisação que se arrastou dois meses - esteve preso 119 dias, acusado de nada fazer quando radicais anti-Chávez invadiram a embaixada de Cuba, no seu município. Fortaleceu-se. Em 2008, na corrida ao estado de Miranda, derrotou Diosdado Cabello, actual presidente da Assembleia Nacional.
Houve quem visse naquele resultado um sinal de que seria capaz de derrotar o próprio Chávez. E quem anotasse outra prova de que nunca teve de se esforçar, já que, embora Cabello seja um homem forte do "oficialismo", padece de má imagem. O certo é que, nas inéditas primárias de Fevereiro, emergiu como candidato da Mesa da Unidade Democrática.
Retirou-se do governo regional em Junho para se dedicar à campanha. "Não reivindico o passado", afiançou, numa entrevista à revista Veja. "Chávez é a consequência de um sistema que implodiu, e se apresentou como um salvador. O problema é que não salvou o país." Mantém distância dos partidos tradicionais. Co-fundou em 2000 o Primeiro Justiça, que se define como um partido centrista, de "humanismo integral". Prefere a companhia de outros líderes da nova geração, como Leopoldo López.
O homem que faz coisas
Apesar do berço, tenta livrar-se do que lhe poderá conferir uma imagem elitista. Está quase sempre de sapatilhas, calças de ganga, boné de beisebol. Gosta que o vejam a fazer coisas. Aprecia o contacto directo com os eleitores. Enquanto alcaide, andava sempre com um gravador para registar o que ia encontrando. Mesmo governador, metia-se nas favelas que sobem as serras para ver o andamento dos seus projectos.
O programa de governo parte do que une os partidos da coligação, que vêm da direita, do centro e da esquerda: "Garantir a autonomia das instituições do Estado, descentralizar o poder, impulsionar a segurança pública, defender a propriedade privada e as liberdades económicas, lutar contra a pobreza através da criação de emprego e da redistribuição dos ganhos do petróleo, promover a educação, desenvolver uma política exterior baseada na solidariedade." É a esperança renovada de toda uma oposição que se estraçalhara em dez anos de luta contra Chávez.
Mas quem é, afinal, este advogado, de 40 anos? Um homem de direita com uma agenda neoliberal escondida, como diz o seu adversário, ou um homem de centro que encontra no ex-Presidente do Brasil Lula da Silva uma inspiração para governar, como tem afirmado tantas vezes?