Apesar do medo, houve gritos de "Morte ao ditador" em Teerão
Os dois principais opositores pediram aos apoiantes para ficarem em casa um ano depois das eleições
Pela primeira vez em muitos meses os gritos de "Allahu Akbar" ("Deus é grande") fizeram ouvir-se a partir de telhados e varandas de Teerão. Foi na sexta-feira à noite, horas antes de se cumprir um ano da votação que reelegeu Mahmoud Ahmadinejad e que provocou os principais protestos e a maior violência interna na República Islâmica desde a revolução de 1979. Ao final do dia de ontem, alguns corajosos tentaram manifestar-se e houve confrontos com as forças de segurança.
A polícia disparou balas de borracha e pelo menos cinco homens foram presos e levados por milícias pró-regime. Os protestos mais visíveis decorreram nas ruas à volta da Universidade de Teerão, onde a polícia perseguiu manifestantes que gritaram "Morte ao ditador", descreveu o diário Los Angeles Times.
Um apoiante da oposição disse por telefone ao jornal que a polícia e os manifestantes também se envolveram em confrontos nas ruas adjacentes à Avenida Azadi. As forças do Governo selaram a zona e "estavam a usar armas de tinta para afugentar os apoiantes da oposição". Imagens de vídeo mostram que houve um protesto no campus da Universidade Sharif e alguns sites deram conta de ajuntamentos na Praça Vali Asr de Teerão.
Foram poucas as notícias sobre manifestações que chegaram da capital iraniana e os protestos que ali se realizaram terão reunido poucas pessoas. Outro cenário não se esperava. Estas são algumas das pessoas que o ano passado saíram à rua aos milhões, perguntando o que tinha sido feito dos seus votos. Tinham votado em Mir-Hossein Mousavi e em Mehdi Karroubi, os dois reformistas derrotados. Um ano depois, ambos pediram aos apoiantes que ficassem em casa para evitar a violência com que sabiam que o regime responderia às "manifestações pacíficas" que quiseram marcar.
O que todas as agências de notícias internacionais descreveram foi o aparato policial e o ambiente de tensão nas ruas de Teerão. Nos últimos dias foram presos dezenas de jornalistas, estudantes e activistas.
De Mousavi e Karroubi chegaram apelos à democracia e lamentos pela repressão sofrida no último ano: o regime "faz calar o povo, encerra os media, organiza eleições como as que vimos o ano passado e enche as prisões", enumerou Mousavi num comunicado de imprensa conjunto divulgado em vários sites da oposição. O regime "devia avançar para termos uma imprensa livre, eleições livres e o respeito pelos direitos humanos, mas isso é o contrário do que se passa", repetiu Karroubi.
A repressão às manifestações que se seguiram às eleições fez dezenas de mortos, centenas de feridos e de presos, alguns condenados à morte. A vigilância apertou e os próprios candidatos derrotados vivem quase em prisão domiciliária.
As únicas fotografias de manifestações chegaram ontem de cidades no Japão ou em Itália. Protestos em solidariedade com os iranianos estavam marcados para 83 cidades do mundo ao longo do fim-de-semana.