Antigo Presidente Khatami considera julgamento de opositores iranianos "ilegal"

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DAMIR SAGOLJ/REUTERS

O candidato derrotado nas eleições de 12 de Junho Mir-Hossein Mousavi sugere que confissões de altas figuras ligadas à oposição, feitas no tribunal, foram arrancadas com recurso à tortura

a Primeiro o antigo Presidente Mohammad Khatami criticou o julgamento de cerca de cem reformistas acusados de tentarem instigar uma "revolução de veludo". De seguida, o candidato derrotado nas presidenciais de 12 de Junho, Mir-Hossein Mousavi, sugeriu que o regime teria conseguido as confissões dos acusados através de tortura: as críticas ao processo, um julgamento sem precedentes na República Islâmica, mostram a continuação da tensão no país desde as eleições que deram a vitória ao Presidente, Mahmoud Ahmadinejad, um resultado que continua a ser contestado pela oposição.O antigo Presidente reformista Khatami, que tem vários colaboradores próximos no banco dos réus, disse ontem que o processo viola a Constituição iraniana. "Estes julgamentos-espectáculo vão causar danos directos no sistema e piorar ainda mais a confiança do público", afirmou, numa declaração no seu site. O facto de os arguidos não terem acesso a advogado e de não saberem que acusações lhes são feitas fazem com que o julgamento "seja contra a Constituição, as leis regulares e os direitos dos cidadãos", conclui o comunicado de Khatami.
Já Mousavi acusou as autoridades de terem arrancado as confissões: "De que querem convencer o povo com confissões que lembram torturas antiquadas?", questionou Mousavi, também no seu site. As palavras dos arguidos, que admitiam "ligações com os inimigos e um plano para derrubar a República Islâmica", soaram a Mousavi como "um gemido que traduz tudo aquilo por que passaram nestes últimos 50 dias", disse.
Reacção do tribunal
O tribunal reagiu, num comunicado, criticando os que comentam "questões legais, afirmando por exemplo que as confissões dos acusados são ilegais". "As confissões são um modo de provar um crime, nunca nenhum perito questionou isso."
O processo conta com cerca de cem arguidos - ontem começou um outro julgamento com mais dez pessoas, detidas também quando começaram as manifestações contra o resultado das eleições. Surpreendeu pela quantidade de arguidos e pela rapidez com que foi instaurado, o que foi lido como um ataque intensificado do regime contra a oposição em vésperas da tomada de posse de Ahmadinejad.
Esta é a primeira vez desde a revolução islâmica de 1979 que dezenas de altos responsáveis como antigos ministros, vice-presidentes e deputados são levados a tribunal no Irão.
O antigo vice-presidente de Khatami, Mohammad Ali Abtahi (que foi conselheiro de outro candidato derrotado a 12 de Junho, Mehdi Karroubi), apareceu no sábado no tribunal com o uniforme prisional e sem o seu turbante de líder religioso, dizendo que não tinha havido fraude eleitoral.
Abtahi afirmou ainda que Mousavi, Khatami e o antigo Presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani tinham feito um pacto de apoio mútuo antes da votação, segundo a agência oficial Irna. A mulher de Abtahi afirmou que ele não estava no seu "estado normal".
Os arguidos arriscam penas entre cinco anos de prisão e a pena de morte, diz a agência Fars (semi-oficial, com ligações aos Guardas da Revolução que aparecem cada vez mais, diz o New York Times, na linha da frente dos esforços para esmagar a oposição).
O julgamento foi também criticado por pelo menos um membro da ala ultraconservadora: Emad Afrough, antigo deputado pró-Ahmadinejad, disse que as pessoas que descrevem os protestos pós-eleitorais como "revolução de veludo" deveriam ser, elas próprias, acusadas e julgadas.
As manifestações pós-12 de Junho foram reprimidas pelos Guardas da Revolução e pela milícia Bassiji: morreram pelo menos 30 pessoas, e cerca de duas mil foram detidas (destas manter-se-ão nas cadeias 250).

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