A Tailândia recusa-se a falar da sucessão do rei Bhumibol mas o tabu pode agravar a crise

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O rei ascendeu ao trono em 1946 JASON REED/REUTERS

Revista Economist com artigo sobre a sucessão do rei Bhumibol não chega aos tailandeses. Este é por enquanto um assunto sobre o qual poucos falam

Depois de litros e litros de sangue humano derramado no chão em forma de protesto, dezenas de milhares de tailandeses continuavam ontem a exigir nas ruas de Banguecoque a demissão do Governo. No meio do braço-de-ferro há uma figura que se tem mantido à margem da crise política: o rei Bhumibol Adulyadej. O monarca tem 82 anos e uma saúde frágil, mas ninguém quer falar do inevitável: a sucessão. O tabu não ajuda a preparar o país para as dificuldades que se avizinham.

Não há rei que esteja no poder há mais tempo do que Bhumibol, e a maior parte dos tailandeses nunca conheceu outro monarca. Talvez por isso, e por ser adorado como um deus, a questão da sua morte nunca é falada em público na Tailândia. De tal forma que a revista Economist, que publica um extenso artigo sobre a questão da sucessão ao trono, decidiu não enviar para o país a edição desta semana.

É a quarta vez desde Dezembro de 2008 que a publicação é retirada de circulação por pôr em causa a neutralidade oficial do palácio, ou a actuação dos militares, recorda a Reuters. A opção de não fazer chegar a edição ao país é por si só um sinal de quão sensível é a questão da morte do rei, hospitalizado desde 19 de Setembro com problemas respiratórios.

A Economist escreve que nos locais das manifestações há um gigantesco retrato do rei a olhar impassivelmente para as multidões de "camisas vermelhas". E que as lutas dos seus "filhos" são para ele uma fonte de preocupação que está a atrasar a sua recuperação. "Mas é precisamente porque o "pai" está de saída que os seus "filhos" estão à luta. A morte de um monarca é sempre um momento de drama nacional e de reflexão. Os tailandeses sentem pavor disso".

A explicação é que quando Bhumibol ascendeu ao trono, em 1946, a instituição era pouco mais do que irrelevante. Mas à medida que o país foi vendo substituir o poder militar por uma democracia, a monarquia foi adquirindo um papel importante como gerador de consensos graças ao carisma do rei.

Se o sucessor de Bhumibol fosse outro, talvez o medo que reina entre os tailandeses não fosse tão grande. Ninguém sabe que tipo de monarca será Maha Vajiralongkorn, o príncipe herdeiro. E muitos prefeririam nem saber. Se houvesse eleições, o provável é que fosse a sua irmã, a princesa Sirindhorn, a subir ao trono.

Cenários

Os tailandeses não ouvem com agrado as histórias da vida privada do príncipe, de 57 anos, opostas à reputada monogamia do pai. Há quem aponte para as suas excentricidades, como ter atribuído uma patente militar ao seu cão, Fu Fu, que às vezes coloca a comer à mesa em jantares de gala. E circularam rumores de ligações ao mundo do crime organizado, durante os anos 1980.

Já a sua irmã tornou-se mais conhecida pelas acções de caridade que publicita. Num artigo de Outubro, a revista Asia Times Online referia a existência de rumores de que o rei ficaria mais contente em passar o poder à princesa.

Até agora, o rei não deu sinais de que a tradição hereditária, de o reino passar de pai para filho, não será cumprida. E a maior parte dos analistas prevê uma transição pacífica, depois de um luto introspectivo que poderá durar 999 dias - um número auspicioso para o nono monarca da dinastia Rama - acrescenta o Asia Times.

"Como a autoridade real será exercida durante o período de luto e entre a proclamação, a aprovação parlamentar e a efectiva coroação do próximo rei, será fundamental para a estabilidade futura", lê-se ainda. "Não é claro para alguns diplomatas que acompanham a situação que haja um plano coerente para gerir o inevitável vazio de poder que se abrirá com a morte de Bhumibol". A única certeza que há é que, quando o seu rei morrer, os tailandeses sentir-se-ão órfãos.

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