Fotogalerias
Ainda há operários
Ao longo de mais de 20 anos, o fotojornalista Adriano Miranda captou imagens de operários no seu labor diário, em fábricas, minas e oficinas. Os rostos dos operários e os espaços do seu trabalho são pedaços da vida diária que, todos juntos, representam “uma homenagem” a quem produz. Porque os operários ainda existem.
Às vezes as coisas acontecem assim. Fotografamos uma fábrica hoje, uma mina amanhã, uma oficina no dia seguinte e não olhamos para essas imagens como um todo. Depois, os anos passam, os rostos desse universo acumulam-se, os espaços onde se movem ganham uma identidade própria, como um único ser com vários tentáculos. E, de repente, olhamos e está tudo ali. O trabalho. Os operários. Essa palavra de que Adriano Miranda diz gostar tanto e preferir mil vezes ao termo que o foi substituindo nos últimos anos: colaboradores. “Está muito na moda falar-se em colaboradores. Há mesmo quem diga que os operários acabaram, que o trabalho é mais qualificado hoje. E é, mas eu não concordo nada que os operários tenham desaparecido. Quando olho para um jovem junto a uma bigorna, um serralheiro a trabalhar em Ovar, é em operários que penso”, diz.
Adriano olhou para as fotografias desses operários, recolhidas ao longo de mais de 20 anos, e viu uma história. Ou várias histórias que, juntas, ganham mais força. São de reportagens que o marcaram, como a do Pejão — “foi o meu foguetão de lançamento e quero ver se mais cedo ou mais tarde transformo esse trabalho num livro”, diz — ou de “imagens muito fortes”, demasiado fortes para serem esquecidas. O mundo do trabalho, o mundo das máquinas domadas por homens e mulheres, de gestos de precisão, do labor que suja as mãos, que nos leva às profundezas da terra, à repetição de movimentos diários, semana após semana, da minúcia de um retoque manual, que faz de cada peça única. Um mundo de espaços apertados ou de instalações amplas, onde tudo é igual ou cada recanto é diferente, com funções bem delineadas, cansativas e mal pagas.
Também este “ensaio” pode vir a tornar-se um projecto mais amplo, admite Adriano. Nestes tempos em que se ouve falar mais em desemprego do que em emprego e em que andamos todos à procura de mais, vale a pena olhar para aqui. “É uma homenagem ao trabalho. Estamos na fase da confiança e sem trabalho não há confiança, não é?”, diz.