Usar transportes públicos? Só se deixar de ter carro ou perder rendimentos

A Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa promoveu um estudo sobre a satisfação dos utilizadores de transportes públicos.

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O Metropolitano de Lisboa, tal como a CP, é associado a "greve" e "sardinha em lata" Rui Gaudêncio

Estes são alguns dos resultados do Estudo de Satisfação dos Utilizadores de Transportes Públicos da AML, um trabalho que foi encomendado pela Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa (AMTL) ao ISCTE e cujos principais resultados foram dados a conhecer esta sexta-feira. A juntar ao já referido inquérito, que foi aplicado a 2008 pessoas, o estudo coordenado pela professora catedrática Elizabeth Reis incluiu 18 entrevistas etnográficas e seis focus groups.

Além do perfil sócio-demográfico e de mobilidade dos habitantes da AML, incluindo qual a origem e o destino das suas deslocações, os inquéritos procuraram aferir qual o seu grau de satisfação com os transportes públicos. Nesse âmbito foram ouvidos não só clientes regulares dos mesmos, mas também pessoas que deixaram de os utilizar há menos de cinco anos e outras que não viajam neles há mais tempo do que isso.

Olhando para o último grupo (que representa 41% dos inquiridos) verifica-se que 60% dos não utilizadores de transportes públicos dizem que com certeza que não virão a fazê-lo no futuro e que 23% o consideram pouco provável. Deixar de ter automóvel ou sofrer uma redução do rendimento são as razões mais apontadas para uma eventual alteração de atitude, seguindo-se a mudança de local de trabalho/escola/residência.    

Entre aqueles que deixaram de utilizar transportes públicos nos últimos cinco anos (16% dos inquiridos), a perspectiva é mais animadora para os operadores: 34% afirmam com certeza que não voltarão atrás na sua decisão e 32% consideram pouco provável voltarem a andar de autocarro, metro, comboio ou barco.  

E porque é que essas pessoas deixaram de andar de transportes públicos? Segundo os resultados do Estudo de Satisfação dos Utilizadores de Transportes Públicos da AML, que foram apresentados pelo director executivo e pela directora técnica da empresa de investigação e estudos de mercado Pitagórica, a mudança do local de trabalho/escola/residência foi o factor que mais pesou. Seguiu-se o facto de terem passado à condição de reformados/desempregados ou a mudança para o automóvel. Só depois disso surgiram elementos directamente associados ao serviço prestado pelas empresas de transportes, como o tempo de deslocação, o preço ou a comodidade/qualidade.    

Olhando apenas para os utilizadores, Alexandre Picoto e Rita Silva concluíram que há uma “ideia globalmente positiva dos transportes públicos da AML” e que o principal motivo para a sua utilização é económico. “Não é por ser mais sustentável ou mais agradável”, notou o director executivo da Pitagórica, frisando que “o racional é económico-financeiro”.

Aos utilizadores e ex-utilizadores de transportes públicos foi também pedido que avaliassem um total de 26 indicadores. Contas feitas, aquilo com que as pessoas estão mais satisfeitas é com a rapidez do percurso, com a distância até à paragem ou estação, com o profissionalismo dos trabalhadores das empresas, com a adequação dos percursos às suas necessidades e com a frequência de veículos aos dias úteis. Já os aspectos mais contestados são o preço dos bilhetes avulso, os transportes alternativos em períodos de greve, o preço dos passes mensais, a frequência de veículos ao fim-de-semana e a frequência das greves.      

Durante a sessão de apresentação deste estudo, o director de serviços de contratualização, fiscalização e financiamento da AMTL adiantou que no primeiro semestre de 2014 os utentes dos transportes públicos fizeram 3492 reclamações no chamado Livro Vermelho. Segundo Hugo Oliveira, esta foi a primeira vez (desde 2011) em que o número de queixas registado num período de seis meses ficou abaixo da barreira dos quatro mil.

Explicando que em média são recebidas nove mil reclamações por ano, o dirigente considerou que esse é um número “muito alto”. Em relação aos visados nas queixas, Hugo Oliveira notou que a empresa Transportes Sul do Tejo tem tido “uma tendência muito crescente”. Quanto aos motivos que levam as pessoas a protestar, este orador notou que as questões relativas aos títulos de transportes são “uma constante”.    

Carris? Multidão. Metro e CP? Greve e sardinha em lata
Que palavras são associadas aos diferentes operadores de transportes públicos da Área Metropolitana de Lisboa? Nos focus groups em que participaram 42 pessoas, 93% das quais utilizadoras regulares desses transportes, “multidão”, “confuso” e “lento” foram algumas das palavras associadas à Carris.

O termo “caro” foi ligado à Vimeca mas também à Rodoviária de Lisboa, em relação à qual também se falou em “seca”. Para muitos, a Transportes Sul do Tejo é sinónimo de “trânsito”, “poluente”, “lento” e “filas”.

A CP é associada a “greve”, “sardinha em lata” e “rápido”, enquanto a Fertagus tem essencialmente associações positivas: “seguro”, “pontual” e “rápido”. Também o Metropolitano de Lisboa surge ligado às palavras “greve” e “sardinha em lata”, enquanto a Metro Transportes do Tejo surge ligada a “ecológico” e “confortável”, mas também “perigoso”.

“Mau cheiro” e “pessoas mal cheirosas” são ideias que se associam a vários operadores, mas só um é referido como não tendo greves: a Fertagus.  

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