Unidade de Saúde de Azevedo, em Campanhã, reabriu parcialmente entre palmas e protestos

Apenas um quinto do edifício reabriu ao público e o espaço vai passar a encerrar à hora do almoço, o que preocupa os utentes.

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Rui Moreira sai do carro oficial e atira um “bom dia” que chega às dezenas de pessoas que o aguardam. A voz de uma mulher sobrepõe-se a todas as outras, em resposta : “Espero que faça por nós aquilo que o outro não fez”, atira, numa referência ao anterior presidente da câmara, Rui Rio. Apertado entre a pequena multidão, Moreira e o vereador da Habitação e da Acção Social, Manuel Pizarro, entram na unidade de saúde, recebem palmas e flores, e acomodam-se num canto livre de gente para os discursos habituais.

Fala primeiro o presidente da Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN), Castanheira Nunes, que destaca o empenho de Pizarro no processo, e garante que a solução encontrada “não é definitiva”. “Estas obras foram feitas num muito curto espaço de tempo, porque as instalações, tal como se encontravam, estavam em muito mau estado e representavam um risco para os utentes e os profissionais”, diz, em tom de enquadramento, antes de prosseguir: “Em colaboração com a Câmara do Porto vimos qual a zona em que era possível intervir no mais curto espaço de tempo e é por isso que só esta área foi agora recuperada. Não é uma solução definitiva, estamos a estudar com a Câmara do Porto alternativas para toda a cidade”.

E o que foi possível fazer foi reabilitar cerca de “um quinto” do edifício, conforme contabiliza a directora do Agrupamento de Centros de Saúde do Porto Oriental, Dulce Pinto. O investimento na ordem dos 60 mil euros permitiu mexer no telhado (mas apenas na zona que cobre a área agora aberta), pondo fim às infiltrações e reforçando o isolamento. Houve ainda lugar à “remoção de algumas paredes, pinturas, mexidas na parte informática e no revestimento e uma intervenção no aquecimento”, enumera o engenheiro José Rodrigues, responsável pelo departamento de equipamentos da ARS.

Manuel Pizarro falou em nome da câmara, garantindo que a reabertura da unidade de saúde era “um grande motivo de satisfação” e lembrando “o povo de Campanhã e de Azevedo” que tanto lutou. “E do Lagarteiro”, gritou-lhe uma mulher do outro lado da sala, fazendo-o sorrir.

O povo todo, a câmara, a ARS e a Junta de Freguesia são os responsáveis pela manutenção da unidade de saúde, lembrou então o presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, Ernesto Santos, colocando de novo o foco em cima do presidente da câmara. “Em 12 anos de actividade autárquica nunca vi um presidente da câmara na nossa freguesia e hoje é de salientar a boa vontade desta câmara. No curto prazo de um mês o presidente já veio a Campanhã três vezes, ele está interessado em mudar o paradigma desta freguesia”, disse.

Moreira não resiste então e responde aos jornalistas, reafirmando o seu empenho em investir em Campanhã. “Esta zona da cidade precisa de uma atenção particular. Prometemos isso e vamos cumprir”, diz.

Rui Moreira prepara-se para sair do edifício, sobram as pessoas que já ali estavam antes de chegar e que por ali continuam depois de ele partir. Há preocupações que continuam a afligir os moradores. Desde logo, a mudança do horário da unidade de saúde. Em vez de ter as portas abertas entre as 8h e as 20h, como antes das obras, o espaço vai agora abrir entre as 9h e as 13h e as 14h e as 18h. Horário que será cumprido “em período experimental”, garante Dulce Pinto, mas que já está a ser contestado.

Também o número de médicos (3) e enfermeiros (1) não agrada a todos. Olindo Teixeira, da comissão de utentes explica ao PÚBLICO o motivo pelo qual promete “manter-se atento” ao funcionamento do espaço: “Antes tínhamos também três médicos, mas dois estavam o dia todo e só um a tempo parcial. Agora só ficará um médico a tempo inteiro, os outros dois estão a tempo parcial. Além disso, só temos uma enfermeira e precisávamos de duas. Isto não corresponde às necessidades da população”, diz.

Rui Moreira já atravessou a rua e entrou na padaria Flor de Azevedo, para tomar café. Um homem abandona o espaço, a falar sozinho. “Nunca tivemos um presidente de câmara que se lembrasse do que isto é”, diz.

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