Nasce um centro para preservar a tradição da Bugiada e Mouriscada
A Bugiada e Mouriscada é uma tradição que simboliza a guerra entre o Bem e o Mal.
A construção do centro está inserida no plano de salvaguarda do processo de candidatura a património cultural e imaterial da UNESCO. O pólo vai facultar e difundir informação para cativar os visitantes de Sobrado.
A preservação da história é um dos objectivos desta obra que vai contar com um espaço dedicado ao estudo e investigação deste evento e da sua ligação com outras festas de mouros e cristãos a nível mundial.
A festividade realiza-se a 24 de Junho, nas Festas de S. João de Sobrado, e reúne vários espectáculos cénicos na rua. A festa simboliza a guerra entre o Bem e o Mal, personificado, respectivamente, por Bugios e Mourisqueiros.
Neste maniqueísmo existe uma inversão dos papéis tradicionais. O Bem é desordeiro, folião e anarca, enquanto o Mal apresenta uma postura ordeira, aprumada e correcta.
A origem da festa remonta aos tempos de ocupação muçulmana na Península Ibérica. Depois da exploração das jazidas auríferas por parte dos muçulmanos, os cristãos passaram a viver nos vales e dedicaram-se a actividades agro-pecuárias. Esta comunidade desenvolveu uma grande devoção pela figura de S. João Baptista pois atribuíam-lhe a cura da filha do chefe cristão.
Quando o rei mouro se viu numa situação similar pediu, aos cristãos, a imagem do santo milagroso. Para os convencer, organizou uma festa e uma procissão. Perante a recusa da cedência da imagem, o Reimoeiro, chefe dos mouros, reteve a imagem à força e, para os humilhar, sentou-os numa mesa à parte e serviu-lhes restos e imundices.
Foi uma outra tribo cristã, os Bugios, que os salvou aparecendo mascarados, munidos de ferramentas agrícolas e a emitir gritos estridentes. A acompanhá-los estava um animal fantástico, a Serpe, uma espécie de lagarto, para pregar um susto ainda maior.
A festa é uma celebração de toda esta simbologia e de um património cultural com vários séculos. A cerimónia de inauguração do Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada contará com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro, e com o Presidente da Casa do Bugio, António Pinto. Estarão ainda presentes o Presidente da Entidade Regional de Turismo Porto e Norte de Portugal, Melchior Moreira, e o antropólogo Paulo Lima, coordenador da candidatura à UNESCO.
A cerimónia inclui ainda apontamentos musicais pela Banda Musical de Campo e a inauguração da exposição temporária As Marias da artista plástica Cláudia Oliveira.
Texto editado por Ana Fernandes