Rui Barbosa usou a Internet para financiar o seu livro sobre as minas do Gerês
Obra é lançada no próximo domingo depois de uma campanha de recolha de fundos online bem sucedida.
Nem os planos mais optimistas de Barbosa previam uma coisa assim. Os resultados do recurso ao crowdfunding, lançado no início de Outubro, não tardaram a aparecer. “Foi excelente, ao fim de duas semanas já tínhamos conseguido atingir o objectivo pretendido”, conta. Como previa, muitos dos apoios chegavam de nomes conhecidos das caminhadas e outras actividades a que se dedica na área no PNPG, mas a dimensão dos apoios extravasou em muito as fronteiras regionais. “Houve muita gente que me contactou ao ter conhecimento da iniciativa, mostrando-se interessada em ajudar”, recorda. O dinheiro veio “um pouco de todo o país”, mas também de paragens mais longínquas como França, África do Sul e Austrália.
Face ao sucesso da adesão, Rui Barbosa optou por manter aberta a página online de recolha de fundos até ao final de Novembro, tal como tinha inicialmente previsto, conseguindo totalizar um apoio de 6483 euros. O orçamento inicial apontava para a necessidade de 4500 euros e a verba “a mais” foi usada para melhorar a edição do livro, que pôde assim ser impresso num papel de melhor qualidade, para beneficiar a qualidade das fotografias que são “uma das riquezas do livro”.
Minas dos Carris – Histórias Mineiras na Serra do Gerês será apresentado no próximo domingo, às 15h, no Museu da Geira, em Terras de Bouro, uma das “portas” de entrada do PNPG, numa sessão que inclui grupos de cantares locais e provas de produtos tradicionais da área protegida. A venda do livro – que terá um preço de capa de 35 euros – será feita online, através da página de Facebook criada para divulgar o projecto e do blogue Carris, que há anos é alimentado por Rui Barbosa. “Não tenho outra forma de distribuição”, desabafa.
Nesta obra, Rui Barbosa reúne centenas de fotografias de época e factos históricos, abarcando as três fases de exploração daquele complexo mineiro no que é hoje o PNPG. A primeira começou em 1941 e durou até ao final da II Guerra Mundial, sendo liderado por uma empresa portuguesa que servia apenas de fachada aos seus concessionários reais, de origem alemã. Seguiu-se um período que corresponde à Guerra das Coreias (1950-1953), tendo tido uma última fase de exploração, menos intensa, nos anos 1970.
O volume de 280 páginas é o resultado dos últimos sete anos de trabalho em que Barbosa desmistificou as ruínas que há muito povoam o imaginário dos habitantes da serra do Gerês e dos visitantes. Nesse processo, encontrou uma história nunca contada da exploração de volfrâmio, em documentos, fotografias e algumas memórias vivas desse tempo. Rui Barbosa falou com ex-trabalhadores e familiares dos antigos mineiros e conta ali as suas histórias. “Hoje em dia é difícil encontrar trabalhadores com lucidez suficiente, especialmente para falar da primeira fase, mas ainda encontrei duas ou três pessoas que tinham histórias com pormenores”, ilustra.