Rita, Miguel e outras 98 pessoas vão conseguir morar em Lisboa e a renda não assusta
A vereadora da Habitação da Câmara de Lisboa defende uma aposta numa “diversidade de programas habitacionais”, para chegar não só aos mais carenciados mas também àqueles incapazes cujos rendimentos não chegam para alugar casas no mercado privado
Além de Rita e de Miguel, houve duas outras pessoas que esta quinta-feira receberam, das mãos da vereadora da Habitação, Paula Marques, as chaves das suas novas casas. Todas elas concorreram ao Programa Renda Convencionada, ao abrigo do qual têm vindo a ser colocados no mercado, com rendas acessíveis, fogos municipais em bom estado de conservação ou a necessitar de pequenas reparações.
Segundo adiantou a vereadora Paula Marques ao PÚBLICO, há já cem habitações em Lisboa que foram ocupados através deste programa. As rendas praticadas, diz, são cerca de 30% abaixo dos valores do mercado, o que tem permitido que venham viver para Lisboa pessoas que não tendo uma situação de carência que justifique a entrega de um fogo num bairro social (ao abrigo do Regulamento do Regime de Acesso à Habitação Municipal) também não têm condições para recorrer ao mercado privado.
A autarca dos Cidadãos por Lisboa diz que ao longo dos últimos dois anos têm chegado à câmara cada vez mais situações de pessoas nessas condições, às quais “há dificuldade em chegar”. Para acorrer a elas e também para garantir algum “equilíbrio” no património do município, Paula Marques entende que o caminho passa por promover uma “diversidade de programas habitacionais”.
Essa diversidade ficou aliás patente na cerimónia de entrega de chaves que se realizou esta quinta-feira, para a qual foram convocados não só os vencedores dos sorteios para a entrega de fogos com renda convencionada, mas também alguns novos inquilinos de bairros municipais, como o do Armador. Na mesma ocasião foram também entregues as chaves de espaços não habitacionais a três instituições: Federação Portuguesa de Boxe, Meninos do Mundo e Casa Sopa Mãe Maria de Nazaré.
Na grande mesa oval de uma sala de reuniões do edifício camarário do Campo Grande, Rita Costa e Miguel Carvalho sentaram-se praticamente um ao lado do outro, mas devido à saída apressada da primeira ainda não foi desta que trocaram algumas palavras. A próxima vez que se virem será, provavelmente, no edifício no Beco do Jasmim em que ambos vão morar.
Rita vive na Ericeira e trabalha na zona da Lapa, em Lisboa, o que a obriga a quase quatro horas diárias no trânsito. Quando mudar para a Mouraria vai ficar a menos de meia-hora do local de trabalho, o que, diz com entusiasmo, lhe vai “facilitar muito a vida” e permitir “fazer vida a pé”.
O desejo de vir morar para a capital não era propriamente novo, mas sempre que fazia contas, esta mulher de 37 anos chegava à conclusão que alugar um apartamento em Lisboa significaria “receber o ordenado para pagar as contas”. “Era estar com a corda ao pescoço”, resume, acrescentando que com a renda de cerca de 200 euros que vai pagar por um T1 municipal “é mais fácil”.
Tal como Rita Costa, Miguel Carvalho soube do Programa Renda Convencionada através de amigos. “Eu gostava de viver sozinho e só desta maneira é que consigo suportar isso”, explicou o estudante de doutoramento, defendendo que a importância de iniciativas como esta para reabilitar o património e trazer jovens para a cidade.
Miguel mora num quarto alugado em Santos, num apartamento que divide com outros inquilinos. “Já tinha procurado casa mas os preços eram sempre muito altos e não podia suportar”, explica, acrescentando que há já algum tempo procurava uma oportunidade para “ter privacidade e independência”.
A partir de agora vai pagar pouco mais de 170 euros de renda por uma habitação na Mouraria. “Gostei da zona, é castiça. Agora vamos ver como é o ambiente”, diz com um entusiasmo evidente e alguma pressa à mistura: a mudança está agendada para este fim-de-semana e agora há que tratar quanto antes dos contratos de gás, electricidade e água.