PSD/CDS deixaram dívida superior a 200 mil euros na Junta de Freguesia de Arroios, em Lisboa
Margarida Martins herdou dívida cuja anterior equipa recusa ter responsabilidade.
Margarida Martins, fundadora da Abraço, independente mas que foi eleita pelo PS, afirmou que o montante em dívida, herdado da antiga freguesia de São Jorge de Arroios – que era presidida por João Taveira, eleito pela "Coligação para Lisboa" (PSD/CDS-PP/MPT/PPM) –, pode mesmo ser superior.
“Neste momento, sei que são mais de 200 mil euros. Está uma equipa a estudar todas as dívidas, que teremos de pagar. Essa Junta de Freguesia deve às Finanças, à Caixa [Geral] de Aposentações, a pessoas que contratava e que nem sabemos quem eram, que não trabalhavam lá, a professores que estiveram a dar apoio”, explicou à Lusa.
João Taveira reconheceu que a junta terá em dívida mais de 200 mil euros, argumentando, contudo, que isso acontece porque "a junta foi privada pela Câmara de Lisboa de todas as verbas referentes a protocolos no ano de 2011 e no ano de 2012". Também o ex-presidente da assembleia de freguesia de São Jorge de Arroios, Joaquim Costa (PS), recusou qualquer responsabilidade pelo facto de a junta (PSD/CDS-PP) nunca ter recebido verbas referentes a protocolos com a Câmara de Lisboa, garantindo que cumpriu sempre a lei.
Em resposta à Lusa, o gabinete de imprensa da Câmara de Lisboa esclareceu que os protocolos não chegaram sequer a entrar em vigor: “A câmara não privou a freguesia de verbas, cumpriu a lei que obriga à ratificação dos protocolos como condição para que estes entrem em vigor, o que não aconteceu. Sem protocolos em vigor não podem ser transferidas as verbas correspondentes”.
Desde o final de 2011 que a Junta de Freguesia de São Jorge de Arroios, em Lisboa, funcionava só com o presidente e um secretário em substituição, depois de os restantes eleitos se terem demitido, alegando incompatibilidades com o autarca.
Em 2009, pouco depois das eleições, um vogal da CDU renunciou ao cargo. Em 2010, demitiram-se mais dois eleitos (um tesoureiro do PSD e uma vogal independente) por "questões éticas", alegando numa moção discordar de "procedimentos administrativos irregulares" do executivo. Em Outubro de 2011, foi a vez de o então secretário, do CDS-PP, deixar o executivo da freguesia.
Também desde 2009 o relacionamento entre o executivo de João Taveira e a Assembleia de Freguesia, presidida por Joaquim Costa (PS), se deteriorava.
Freguesia com 34 mil habitantes
Desde que o novo executivo tomou posse, a junta de freguesia funciona no mercado do Forno do Tijolo, nos Anjos. Mas Margarida Martins espera não ocupar estas instalações durante muito tempo. Quer que a junta esteja “mais próxima das pessoas” e num local “mais acessível”, como a Avenida Almirante Reis, e está a negociar essa mudança com a Câmara de Lisboa.
O objectivo da autarca é que a junta tenha, para além da sede, dois outros “polos ou delegações”.
Margarida Martins tem agora em mãos uma freguesia com cerca de 34 mil habitantes e que é composta por uma população muito diferenciada: “É uma freguesia com grandes desafios”, afirmou, lembrando que existem ali “focos muito grandes de pobreza”, a que a junta quer dar resposta coordenando o trabalho das associações no terreno, mas também criando “um polo grande ligado à acção social”.
A responsável pretende combater o preconceito em relação a esta zona da capital, e melhorar a imagem da freguesia, tendo já começado a trabalhar nesse sentido. Neste momento, contou, já não há distribuição de alimentos na rua, em frente à igreja de São Jorge de Arroios. Esta é “uma luta” que Margarida Martins promete travar noutras zonas da freguesia.
Margarida Martins mostrou-se ainda preocupada com a mobilidade dos seus fregueses: “Temos as piores carreiras do metro – as menos dignas –, temos imensas dificuldades com os transportes, e as pessoas estão muitas vezes impossibilitadas de caminhar pelos passeios, porque estes estão repletos de viaturas estacionadas”, concluiu.