Presidente da EDIA defende plantação de eucaliptos nos blocos de rega de Alqueva
A ocupação de parte do novo regadio alentejano com árvores de crescimento rápido é a solução proposta para atenuar a falta de matéria-prima na indústria papeleira.
A opção que preconiza seria acrescida de uma outra vantagem: ao concentrar em Alqueva um modelo de “produção intensiva, seriam libertados territórios onde teria lugar a recuperação do ambiente”. José Pedro Salema diz “não fazer qualquer sentido distribuir o mal pelas aldeias”, ou seja, disseminar pelo território nacional a plantação de eucaliptos, espécie que já cobre uma área de 812 mil hectares, superando o sobreiro, com 737 mil hectares, e do pinheiro-bravo, com 714 mil hectares.
O sector florestal “é muito dinâmico e, se utilizarmos as pequenas parcelas de terreno em Alqueva, podemos atenuar a falta de matéria-prima e reduzir a vinda de barcos carregados de madeira da América do Sul”. O presidente da EDIA não receia a polémica que a sua posição possa suscitar junto das organizações ambientalistas, encarando como “natural regar eucaliptos”, embora saiba que a legislação em vigor não o prevê, uma decisão que considera “um erro”.
Nos relatórios de actividade da EDIA, publicados em 2012, a empresa assume a sua “participação” num grupo de trabalho, que incluiu a Autoridade Florestal Nacional, a Associação de Indústria Papeleira e a Soporcel, para estudar “a viabilidade de espécies florestais de crescimento rápido nos perímetros de rega em Portugal”.
Num esclarecimento solicitado pelo PÚBLICO no início de 2013 sobre os resultados das experiências realizadas pelo grupo de trabalho, a EDIA adiantou que “não tinha conhecimento” de “quaisquer ensaios” nos blocos de rega de Alqueva. No entanto, confirmou “o interesse das indústrias do sector florestal nas áreas de regadio, no sentido de obter maiores produtividades e consequentemente uma maior capacidade produtiva em Portugal”.
Comentando a possibilidade de poderem vir a ser plantados eucaliptos em Alqueva, a EDIA disse na altura “estar receptiva a todas as alternativas produtivas que promovam a competitividade das explorações dos agricultores, desde que técnica, económica e ambientalmente sustentáveis”.
Subsiste, porém, uma dificuldade que até agora não foi superada: motivar os pequenos agricultores que não regam para vender ou arrendar as suas explorações ou, em alternativa, aceitar parcerias.
A área ocupada pelo regadio social em Alqueva, cerca de 20 mil hectares, é a que oferece melhores condições para receber plantações de eucaliptos, já que a grande maioria dos pequenos agricultores está relutante em aceder às culturas regadas. A taxa de adesão ao regadio é "muito baixa”, reconhece o presidente da EDIA, admitindo que “está preocupado” com a situação.
Durante o 1.º semestre de 2013, foram efectuados 818 inquéritos a pequenos agricultores com explorações no regadio social que somam uma área de 8267 hectares. O resultado esteve longe de ser promissor: só 14% dos inquiridos aceitam arrendar as suas terras, 20% optam por parcerias e 57% não disponibilizam as suas explorações para as culturas regadas.
Para superar esta dificuldade, a alternativa passa agora por “fomentar a agregação de parcelas que poderão ser aproveitadas por um terceiro” proprietário ou rendeiro, refere José Pedro Salema. Neste sentido, a EDIA mantém no seu plano de actividades para 2014 a campanha de sensibilização dos pequenos proprietários de terras, para que boa parte da área afecta ao regadio social abandone o sequeiro e opte pelo regadio, nomeadamente cultura de milho. Isto, enquanto a legislação não permitir a plantação de eucaliptos nos perímetros de rega.