Porto vai ter já em Março uma nova praça entre a Rua da Madeira e São Bento

Parque de estacionamento vai ser desactivado e passa a ter um novo uso, à boleia do projecto Locomotiva

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Rui Moreira espera que o Locomotiva puxe pela reactivação da Rua da Madeira e envolvente à estação de São Bento Regina Coelho

O epicentro do Locomotiva, iniciativa da Porto Lazer apresentado esta segunda-feira pela Câmara do Porto e pela Refer, é um espaço de cerca de mil metros quadrados de armazéns junto à desactivada Linha 1 de São Bento, com comunicação para o parque de estacionamento que o município vai transformar numa praça. Rui Moreira explicou que o objectivo desta intervenção física no espaço é abrir portas para que os agentes económicos e culturais possam trazer novas actividades para esta zona da cidade depois de terminado o projecto Locomotiva, em Junho.

Este projecto, financiado com 800 mil euros pelo programa operacional regional ON2, conjuga cultura e lazer com reabilitação urbana - esta a cargo da câmara, num montante ainda não quantificado, mas que não será “avultado” - e representa o arranque de uma nova orientação da Porto Lazer. Agora que a câmara voltou a ter  pelouro da Cultura, a empresa municipal vai voltar-se para a dinamização dos espaços urbanos, recuperando-os para a vida da cidade ou, como neste caso, “activando-os”, dado que, até agora, esta é apenas uma área ocupada pelos automóveis.


Moreira considera que uma zona onde confluem tantas pessoas, diariamente, e que está tão próxima de eixos como a Batalha (subindo a rua da Madeira), as ruas Mouzinho/Flores e os Aliados, em frente, merece outra vida. E a Refer vê nesta parceria a possibilidade de rentabilizar espaços patrimonialmente interessantes, abandonado que está um antigo projecto de criação de um shopping na estação, caso o mercado se interesse por ocupar, de forma mais perene, o que por agora vai ser a estação de partida do Locomotiva.

Os armazéns acolherão duas grandes exposições, a primeira das quais, a 28 de Março, terá curadoria de Jesse James, co-organizador do festival Walk & Talk, que pôs São Miguel, nos Açores, na rota mundial da arte urbana. Dele também será a responsabilidade de orientar várias residências artísticas nestes espaços amplos. O programa de arte urbana do Locomotiva vai abordar outros espaços, como a ruína na Avenida Dom Afonso Henriques, a sul da estação (um projecto do atelier de arquitectura FARH), por exemplo. E, neste campo, haverá chamadas para intervenções que tenham como material o azulejo, presente, nos painéis de Jorge Colaço no átrio da estação.

Ao longo dos seis meses da iniciativa, várias entidades e associações da cidade vão tomar conta dos armazéns, da nova praça e de outros pontos do centro histórico. A Associação Porta Jazz (que esta segunda-feira já deu música à assinatura do protocolo de colaboração entre a câmara e a Refer) comprometeu-se a realizar 20 concertos; o ACE Escola de Artes está a preparar um projecto centrado na memória da cidade, com cerca de mil participantes, aberto à população; o Museu das Marionetas do Porto vai adaptar uma carrinha a fazer sessões de teatro ambulante em várias ruas; a Erva Daninha vai levar o novo circo para a rua; e a associação PELE vai realizar “Passeios ao pôr do sol”, pondo turistas em contacto com os habitantes da cidade velha.

O Circolando, o Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica e a Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto juntam-se também ao projecto que, para além desta programação já estabelecida, vai viver muito das propostas que outras entidades queiram fazer. A Opium, parceira da Porto Lazer no Locomotiva, já tem aberto o convite público à apresentação de projectos de valorização artística, social, turística e económica do património cultural do Centro Histórico do Porto.

 
Refer continua a procurar formas de rentabilizar espaços

A Refer, empresa responsável pela rede ferroviária e estações de todo o país continua a procurar soluções que rentabilizem os espaços desocupados na estação de São Bento – classificada como monumento nacional, integrada no património da Unesco e considerada uma das mais belas do mundo. A empresa desistiu em 2012 de um polémico projecto que transformaria a gare num shopping e o actual presidente da empresa, Rui Loureiro, assumiu que este não é o tempo de investimentos em grandes complexos imobiliários, como o que foi feito em Campanhã.  

O gestor considera que esta parceria com a Porto Lazer e a Câmara do Porto pode ser uma forma de atrair o interesse de investidores para os armazéns da ala norte, que passará a confinar com a nova praça. Rui Loureiro desafiou os municípios onde existe património da Refer a sentarem-se à mesa com a empresa, para procurar soluções que permitam “reabilitar” espaços que a desactivação de muitas linhas, por esse país fora, deixou sem funções.

No caso destes armazéns de São Bento, a sua utilização para outras finalidades implicará obras de isolamento dos espaços, onde esta segunda-feira, na apresentação da iniciativa cultural da Porto Lazer, o som dos comboios pediu meças às vozes dos intervenientes. Dando o ambiente ideal a um projecto chamado Locomotiva.

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