Pescadores vão comercializar "cabaz do mar" no concelho de Odemira
Cooperativa e associação de pescadores procuram forma de chegar mais facilmente aos consumidores e aproveitar espécies com menor valor comercial.
A iniciativa pretende eliminar os intermediários e valorizar as espécies menos apreciadas, através da comercialização de um “cabaz do mar”, que inicialmente será composto por cerca de três quilos de pescado fresco e vendido a vinte euros. Este preço inclui a entrega em casa, indicou esta sexta-feira à agência Lusa uma das responsáveis pelo projecto.
Os cabazes deverão começar a ser distribuídos em Março e o projecto arrancará com uma fase experimental que se prolongará até ao final do ano, adiantou Telma Guerreiro, presidente da direcção da Taipa, uma cooperativa que actua na área da solidariedade e do desenvolvimento integrado do concelho de Odemira.
De acordo com a dirigente da cooperativa, trata-se de um projecto “inovador” a nível nacional, que segue a “lógica” dos cabazes de produtos hortofrutícolas, mas associado ao pescado, que tem regras específicas.O peixe vendido nos cabazes tem de ser obrigatoriamente comprado nas lotas, o que garante a qualidade, a higiene e a segurança dos produtos, além de que respeitam as normas de sustentabilidade das espécies.
“Nós achamos que só os produtos hortícolas é que têm época, mas o peixe também tem época. Nós não comemos sardinhas o ano todo”, frisou a responsável. A iniciativa vai ser posta em prática pela Associação Cultural e de Desenvolvimento de Pescadores e Moradores da Azenha do Mar, uma pequena comunidade piscatória da freguesia de São Teotónio, junto ao Brejão e a Odeceixe, com o apoio da Taipa.
Os elementos desta associação serão responsáveis por comprar, amanhar, acondicionar e entregar o pescado aos interessados residentes no concelho, “encurtando o circuito” de distribuição.
O “cabaz do mar” será elaborado com espécies que estiverem disponíveis no dia da compra, incluindo algumas menos valorizadas pelos consumidores, como o rascasso, o bodião e a cavala, explicou Telma Guerreiro. Desta forma, o projecto contribui para a “redução da rejeição” destas espécies, comprometendo-se também a pagar “um preço justo” por elas, uma vez que “chegam a ser vendidas a cêntimos”.
“Este projecto quer mais do que comercializar”, afirmou a responsável, sublinhando a preocupação dos promotores com valores como “a cidadania e a sustentabilidade”.
Para ultrapassar uma eventual resistência dos clientes, o peixe será acompanhado de algumas receitas, recolhidas junto dos pescadores e das suas famílias. Também está prevista a organização de oficinas de culinária e de encontros com os pescadores e a população.
O projecto está orçado em cerca de 50 mil euros, com financiamento por fundos comunitários (75%) e do município, e insere-se numa intervenção mais abrangente que a Taipa está a desenvolver junto das comunidades piscatórias de Odemira.
Um dos objectivos da acção prende-se com o desenvolvimento de diferentes formas de sustento das populações, para evitar que estas fiquem "reféns do mar”, como a produção de peças de artesanato e a organização de caminhadas guiadas.