Surto de legionella em Vila Franca de Xira deixa 33 pessoas internadas
Autoridades investigam origem do surto. Há um doente em estado grave. Portugal registou centenas de casos nos últimos anos.
Carlos Rabaçal explicou que sete destes utentes estão internados em unidades de Cuidados Intensivos e Intermédios de Vila Franca, mas que apenas uma das situações é considerada grave. As restantes 20 pessoas foram internadas em camas de medicina geral e estão a receber a medicação indicada para este tipo de situações. Os doentes têm idades entre os 30 e os 80 anos.
“De um modo geral, as situações são estáveis do ponto de vista clínico, havendo apenas uma que é mais preocupante”, referiu Carlos Rabaçal. "Ao que tudo indica", segundo disse à agência Lusa o director-geral da Saúde, Francisco George, todos os casos circunscrevem-se ao concelho de Vila Franca de Xira.
De acordo com Carlos Rabaçal, este afluxo anormal de doentes com sintomas de legionella foi comunicado às autoridades de saúde e o hospital desconhece as origens do problema. Carlos Rabaçal salientou, contudo, que a bactéria não se transmite pelo contacto humano nem pelo consumo de água. A Direcção-Geral da Saúde (DGS) está reunida para perceber se se justificam outras medidas de acompanhamento deste caso.
Os doentes são originários das freguesias do Forte da Casa, Póvoa de Santa Iria e Vialonga (todas do sul do concelho de Vila Franca), mas também de Bucelas (concelho de Loures) e Samora Correia (concelho de Benavente). O PÚBLICO apurou que os inquéritos realizados pela Delegação de Saúde de Vila Franca não identificaram nenhum fio condutor entre as 27 pessoas atendidas no hospital
A exposição à bactéria da legionella pode originar infecções respiratórias e os sintomas incluem febre alta, arrepios, dores de cabeça e dores musculares. A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira distribuiu, por seu turno, um comunicado onde explica que o laboratório dos seus Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento (SMAS) procedeu a análises à água distribuída no concelho e “não verificou qualquer registo anómalo dos valores normais para consumo humano”. A autarquia contactou, também, a EPAL (empresa que fornece água ao concelho em alta), que assegurou que “não tem qualquer registo de alteração das condições de abastecimento”.
Centenas de casos em Portugal
Portugal registou, entre 2009 e 2013, centenas de casos de doença do legionário, resultante da infecção pela bactéria legionella, segundo dados divulgados pela DGS e pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA). Os números constam do relatório Doenças de Declaração Obrigatória 2009-2012, divulgado pela DGS, e indicam que, neste período, foram notificados, no país, 459 casos.
Numa análise mais recente feita pelo INSA, o organismo refere que, nos 284 casos registados entre 2010 e 2013, se evidencia que mais de 60% eram de residentes na região Norte, com destaque para os distritos do Porto e de Braga.
De acordo com o relatório do INSA, a maioria do total de casos notificados em Portugal deu-se em homens com mais de 30 anos, com o período do Inverno e da Primavera a serem os que registaram menos casos, "o que corresponde à distribuição sazonal esperada".
Esta expectativa justifica-se pelo facto de a multiplicação da legionella ser favorecida pela temperatura e pela humidade. Aliás, estas bactérias podem existir em reservatórios naturais ou artificiais, como humidificadores ou sistemas de ar condicionado, piscinas ou jacuzzis.
É ainda salientado que a doença, apesar de ser de declaração obrigatória, estará a ser subnotificada e subdiagnosticada. Ainda assim, o número de casos tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos, tal como acontece no resto da Europa.
No final de Setembro, em Almodôvar, no Alentejo, foi identificada a presença da bactéria legionella nos reservatórios da rede pública de distribuição de água da vila, mas, por se tratar da estirpe legionella spp, considerada a "menos perigosa", a Administração Regional de Saúde do Alentejo concluiu não haver um risco grave para a saúde pública pelo consumo da água.
Ainda assim, a autarquia aconselhou a população a evitar ou minorar a exposição por inalação de partículas de água provenientes de actividades como banhos de chuveiro, rega por aspersão e lavagem de automóveis e pavimentos com mecanismos de pressão. Não foram registadas, a propósito deste caso, quaisquer infecções pela bactéria.
Segundo o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Mário Jorge Santos, a situação ocorrida em Vila Franca de Xira configura a de "um evento ocorrido num espaço com ar condicionado", dado o número de casos de infecção confirmados no mesmo dia. "No duche não aparecem tantos casos", assinalou.
O médico esclareceu que a bactéria não se transmite de pessoa para pessoa, mas através da inalação de gotículas de água, invisíveis a olho nu e alojadas em sistemas de refrigeração ou aquecimento e duches, com falta de manutenção ou manutenção deficiente. com Lusa