O pai de Mr. Dheo tem o Porto nas mãos no parque de estacionamento da Trindade
Câmara do Porto pede que artistas de rua apresentem as suas propostas, para mais intervenções de arte urbana na cidade
Em Maio de 2013, Hazul Luzah publicou uma fotografia de uma das suas pinturas, na Rua de Sá de Noronha, a ser coberta de tinta amarela por um elemento da “brigada anti-graffiti” que o executivo de Rui Rio tinha colocado em acção. A imagem reacendeu o rastilho contra uma política camarária que não distinguia tags de arte urbana e levou mesmo o presidente a admitir que, se calhar, em alguns casos, deveria ter havido outro cuidado antes da remoção da pintura em causa. Esta terça-feira, Hazul esteve presente na inauguração informal de uma pintura que a câmara o convidou a fazer e onde se distingue a habitual figura feminina arredondada que ele vai espalhando por vários espaços abandonados da cidade.
Foi a ele que a câmara quis entregar parte desta “primeira parede livre”. A outra metade ficou para Mr. Dheo, que desenhou o pai, segurando uma lata de tinta numa mão e a Torre dos Clérigos, simbolizando o Porto, na outra. A envolver o edifício, uma névoa de tinta. “Quis fazer uma homenagem a um excelente pai, um excelente avô e um excelente homem, que me motivou a fazer isto há quinze anos. E celebrar esta nova parceria, com o graffiti a envolver a cidade, numa união saudável”, disse.
Os dois artistas urbanos ouviram Paulo Cunha e Silva defender que o espaço público, sendo “de grande liberdade”, é também de todos, pelo que “deve ser um espaço de alguma negociação”. Mas com moderação, explicou. “A intervenção tem de ser negociada, regulamentada, mas isto não quer dizer que queiramos uma arte pública excessivamente condicionada. Ela precisa sempre de alguma irreverência e espontaneidade”, disse.
Hugo Neto, que dirige a Porto Lazer, explicou que isto não significa que o regulamento municipal que obriga à obtenção de uma licença para instalar murais na cidade, vá ser alterada, mas que a empresa municipal funcionará como “facilitadora” em casos que o justifiquem. Ou seja, os artistas podem dirigir-se à empresa, apresentar as suas propostas e, se elas forem consideradas como uma mais-valia para a cidade, poderão ser isentas de licença e do pagamento da respectiva taxa.
Paulo Cunha e Silva garantiu que “o Porto vai correr a todo o vapor no sentido de ganhar algum lastro perdido” na utilização deste tipo de arte, geralmente, “efémera” e Hugo Neto afirmou que serão investidos 20 mil euros, até ao final do ano, em acções do género. Está a decorrer uma convocatória aberta Street Art Porto – caixas EDP, para encontrar propostas de intervenção artística em 15 caixas de distribuição de electricidade na Rua das Flores e, em Outubro, será lançada nova convocatória para um segundo ciclo de intervenção em 19 cabines telefónicas da cidade. Além disso, já há uma parede na Rua da Restauração também destinada a uma pintura, que não deverá ter um carácter tão permanente como a que agora foi “inaugurada”.
Antes de o presidente da câmara, Rui Moreira, ter aparecido para espreitar a obra e dar os parabéns aos artistas, o vereador do Ambiente, Filipe Araújo, garantira que a limpeza da cidade irá continuar, mas “com uma distinção clara do que pode ser arte do vandalismo”. E Paulo Cunha e Silva, que garantia que “o executivo actual nunca provoca o executivo anterior” e que falara antes de Filipe Araújo, brincava: “Vou passar a palavra ao meu colega do Ambiente que me prometeu que a câmara não vai pintar estas paredes de branco, amanhã.”