Até os camiões têm murais do 25 de Abril

Cinco artistas foram convidados pela Câmara de Lisboa para "reinterpretarem com o seu olhar, o seu estilo, o seu discurso" os murais de há 40 anos.

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Em 2011, numa iniciativa que, tal como esta, foi desenvolvida pelo pelouro da Higiene Urbana do município e pela Galeria de Arte Urbana (uma estrutura afecta ao Departamento de Património Cultural), outros cinco camiões do lixo receberam intervenções artísticas. MAR, Maria Imaginário, Miguel Januário, RAM e SLAP foram os autores dessas obras, que ainda hoje podem ser vistas nas ruas da capital.

“Fomos pioneiros a intervir neste suporte”, salienta um dos elementos da Galeria de Arte Urbana (GAU), acrescentando que o projecto, que incluía também intervenções artísticas em 20 vidrões da cidade, foi premiado em Portugal (pelo Clube dos Criativos) e no estrangeiro (no Festival Internacional de Criatividade de Cannes). Inês Machado explica que o grande objectivo da iniciativa desenvolvida há quase três anos, e que se intitulava Reciclar o Olhar, era levar a arte urbana “a um público mais generalista” e “desconstruir os preconceitos associados ao graffiti”.

Agora o suporte “menos convencional” que são os camiões do lixo repete-se, com um mote específico: comemorar os 40 anos do 25 de Abril. Aos artistas convidados para participar nesta iniciativa foi lançado o desafio de, como se diz na informação divulgada pela Câmara de Lisboa, “reinterpretarem com o seu olhar, o seu estilo, o seu discurso” os murais revolucionários criados naquela época.

Inês Machado sublinha que aquilo que se pretendia era que essa “reinterpretação do património iconográfico do 25 de Abril” fosse feita “à luz do olhar actual” dos artistas convidados, “com total liberdade” e sem que houvesse “um mimetismo”. O resultado vai estar à vista de todos, nas ruas do centro histórico e da frente ribeirinha, já que é a estas áreas que os camiões intervencionados estão adstritos.

Também no âmbito das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, foi inaugurada a exposição Venham mais Sete!, com trabalhos de Carlos Farinha, Hugo Makarov, Miguel Januário, Miguel Noronha, Nomen, Telmo Alcobia e Tinta Crua, nos painéis da Calçada da Glória e do Largo da Oliveirinha. Inês Machado explica que estes são artistas de diferentes proveniências, habituados a trabalhar em suportes variados, mas unidos pelo facto de “serem activos”, de terem “uma crítica social patente no seu discurso”.

Esta segunda-feira ficou ainda marcada pelo início da execução, pela artista Tamara Alves, de uma intervenção de arte urbana numa das fachadas do edifício da Assembleia Municipal de Lisboa, na Avenida de Roma. Inês Machado adianta que a inauguração está marcada para o próximo dia 29 de Abril, às 15h.

A obra de Tamara Alves, a que a própria se referiu como uma “dança que mantém o conceito de luta, de trabalho de equipa”, foi escolhida por unanimidade entre 21 propostas submetidas a um júri composto por Helena Roseta, presidente da assembleia municipal, Jorge Ramos de Carvalho, director do Departamento de Património Cultural, e Júlio Pomar, artista plástico.

“O 25 de Abril não foi apenas uma libertação política da ditadura. Foi uma libertação da vida, das energias positivas das pessoas e do próprio amor, que deixou de ser, também ele, uma palavra proibida. Penso que este trabalho da Tamara interpreta, de uma forma não-estereotipada e muito pessoal, essa libertação e essa energia em que todos nos podemos rever”, afirmou Helena Roseta quando foi anunciado no início de Abril o resultado deste concurso.

Lisboa entre as melhores cidades para ver arte urbana
Lisboa surge em sexto lugar numa lista, publicada pelo portal Huffington Post, que elenca as 26 melhores cidades do mundo para ver arte urbana. A lista é liderada por Berlim, e à frente da capital portuguesa surgem ainda São Paulo, Melbourne, Cidade do Cabo e Moscovo.

“Com o Verão a aproximar-se e com vários meses com oportunidades de viajar no horizonte, criámos um guia das cidades de todo o mundo que demonstram que a arte urbana é algo que merece ser celebrado”, diz a autora da lista, Katherine Brooks, sublinhando que nos últimos anos esta área conheceu “uma mudança drástica”: “O que antes era um acto clandestino de vandalismo artístico é agora, frequentemente, uma forma celebrada de arte pública, que emerge nas grandes metrópoles”.

Inês Machado, da Galeria de Arte Urbana, diz que a inclusão de Lisboa nesta lista “é uma excelente notícia”, que demonstra o “reconhecimento internacional do talento dos artistas” que têm deixado a sua marca na cidade e que premeia a “boa estratégia que a cidade tem vindo a prosseguir” nesta área.

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