Moradores do Bairro Alto lançam petição contra o Park por causa do ruído

Documento diz que o bar situado no último andar do silo na Calçada do Combro tem suscitados várias reclamações dos seus vizinhos.

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Nuno Ferreira Santos

Além do barulho madrugada dentro, os moradores reclamam, no documento, de uma “onda de criminalidade” que dizem ter-se vindo a acentuar desde a inauguração do espaço em 2013 e da falta de privacidade, uma vez que os clientes do bar têm vista privilegiada para dentro das casas de alguns vizinhos. O documento descreve a situação como “um autêntico inferno”.

As queixas às autoridades resultaram em várias fiscalizações, tanto por parte da Câmara Municipal de Lisboa como pela PSP. A organização do Park revelou ao PÚBLICO que a polícia vai lá “todos os dias, e produzem sempre o mesmo relatório – não há barulho, não há ruído”. Foram instalados dois compressores limitadores de som no final do mês de Março e são feitas medições sonoras pelo Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), que verificou que os limites estavam dentro do legal permitido, asseguram os proprietários. Mas as reclamações persistiram e a AMBA deu início a um abaixo-assinado para que sejam instaladas mais barreiras sonoras e visuais.

Luís Paisana, presidente da Associação dos Moradores do Bairro Alto, afirma que para além do barulho do estabelecimento ainda há a questão do lixo e dos engarrafamentos de trânsito na zona. “As queixas não têm grande resultado prático”, diz. Assim nasceu a ideia de organizar um abaixo-assinado, que acaba por ter um maior impacto junto das autoridades do que uma queixa individual. “Não queremos que o estabelecimento vá à falência, só queremos uma melhor fiscalização do ruído”, afirma. A AMBA diz que apenas deseja que haja mais respeito por quem mora no Bairro Alto: “Não queremos acabar com a vida nocturna, queremos é que haja regras, fiscalização e um certo cuidado”.

O documento refere, ponto por ponto, as queixas dos moradores da zona, que ascendem a 23. E estas vão dos crimes contra a propriedade dos habitantes da zona ao ruído causado pelos milhares de clientes do estabelecimento, passando pelas festas e música ao ar livre “imposta” à vizinhança, engarrafamentos causados pela maior afluência ao local devido ao novo espaço. Focam também o hábito de utilizar as buzinas seja a que horas for e “o facto de a referida esplanada estar situada num sétimo andar, com 360º de vista sobre a cidade de Lisboa e sobre todas as casas, apartamentos, e jardins vizinhos, e de os clientes deste estabelecimento estarem permanentemente empoleirados nos varandins a fumar, a conversar e a tirar fotografias, o que constitui uma autêntica devassa da vida privada de todos os que são vizinhos do Park, que assim não podem usufruir inteiramente das suas casas, apartamentos e jardins”.

Acrescem a “onda de criminalidade” e a acumulação de resíduos nas ruas. Os moradores apontam ainda o dedo ao horário de funcionamento do espaço, que estará a ser desrespeitado, “pondo em causa os direitos fundamentais mais básicos no que diz respeito à qualidade de vida, descanso, privacidade e integridade física” dos que vivem na Calçada do Combro, Travessa de André Valente, Rua do Século, Travessa da Condessa do Rio, Rua da Hera, Travessa dos Fiéis de Deus, Travessa das Mercês, Travessa de Santa Catarina, Travessa do Alcaide, Rua do Sol e artérias adjacentes.

No documento há também uma lista de pedidos dirigidos à câmara, entre os quais a proposta de criação de barreiras sonoras e visuais compatíveis com a estética do bairro, a instalação de medidores de ruído, uma redução do horário do estabelecimento para algo mais compatível com o direito ao descanso dos residentes e a existência de um fiscal fora do silo automóvel (parque de estacionamento onde se encontra o Park) para que os clientes e automobilistas da área possam ser encaminhados de maneira a evitar engarrafamentos, tudo como forma de preservação do centro histórico da cidade.

Pedro Garcia, sócio do Park, afirma que a culpa não é do estabelecimento e que a zona onde está situado é naturalmente ruidosa e movimentada. Refere ainda que após várias actividades de fiscalização foi verificado que o estabelecimento cumpria todas as normas, tendo a gerência tomado precauções para evitar incómodos, desde o silenciar da música da esplanada à meia-noite até à instalação de uma nova barreira sonora, que será colocada na próxima semana, que assim se junta às já existentes.

“Temos os miúdos que vêm para a Calçada do Combro a apitar e aos gritos e o culpado é o Park”, insurge-se Pedro Garcia. “Muitas vezes o barulho vem de outros bares da concorrência. Fechamos cientificamente às duas da manhã”, assegura. Quanto à criação de uma barreira visual, como pedem os moradores, considera que esta é uma “não-questão” e que, “nesse caso, não haveria qualquer tipo de espaço com vista”.

“Existem muitos novos moradores atraídos, e bem, pelos encantos do centro histórico, mas que, na prática, não aceitam a realidade pré-existente da zona, as suas características e a sua vida comercial (na qual assenta obviamente o sustento de muita gente), procurando um sossego que talvez fosse mais fácil de encontrar noutra parte da cidade”, afirma. E considera que algumas das críticas poderão vir da concorrência.

O presidente da AMBA nega e contrapõe que tanto a organização do estabelecimento como os clientes “não são pessoas que vivem no bairro; se vivessem e tivessem que dormir, seria diferente”.

O Park foi inaugurado no Verão de 2013 no sétimo e último andar do Parque de Estacionamento da Calçada do Combro, e tem sido um espaço popular desde então. É restaurante, bar e tem ainda várias actividades nocturnas desde DJ, festas e cinema, abrindo as portas às 12h30 e fechando às duas.

Texto editado por Ana Fernandes

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