Martim Moniz vai ter restaurantes e um mercado intercultural

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O futuro Martim Moniz terá restaurantes com comida chinesa, africana, japonesa, indiana e portuguesa

O local, que está actualmente vedado para obras, será gerido por uma empresa de animação a que a Empresa Pública de Urbanização de Lisboa (EPUL) concessionou a respectiva exploração, na sequência de um concurso público.

De acordo com José Rebelo Pinto, gerente da NCS - Produção, Som e Vídeo, a única concorrente, os dez quiosques de aço inoxidável ali existentes há mais de uma década serão adaptados de forma a receberem os restaurantes que servirão comida pré-preparada. Para explorar cada um deles, a NCS convidou pessoas que já trabalham no ramo, alguns estabelecidos na vizinha Mouraria com restaurantes de cozinha de diferentes países, mas também, diz o empresário, "chefs reputados".

Os clientes levarão os seus tabuleiros e instalar-se-ão numa esplanada central, numa área de mesas dotada de estruturas de ensombramento e com capacidade para 300 pessoas sentadas. "Isto funcionará como no Colombo ou em qualquer centro comercial do género. Nós faremos a gestão do espaço", diz Rebelo Pinto.

Está prevista a instalação de restaurantes com comida chinesa, africana, japonesa, indiana, portuguesa e não só. Os quiosques e a esplanada vão funcionar 365 dias por ano e aos fins-de-semana haverá uma série de actividades dominadas pela ideia da multiculturalidade, mantendo e aprofundando a vocação adquirida pela Mouraria nos últimos anos como lugar de encontro de povos e culturas.

Nos termos do anúncio do concurso lançado em Dezembro pela EPUL, que é proprietária do terreno ocupado pela praça, o objecto da concessão reside na "exploração de dez quiosques destinados a estabelecimentos de bebidas, com esplanadas, e feira semanal, com o máximo de 36 stands".

A proposta vencedora contempla um conceito de feira semanal a que Rebelo Pinto chama "mercado de fusão" e que assenta igualmente nas características multiétnicas da Mouraria e do Intendente, onde os comerciantes chineses e indianos e a população imigrante, em especial de origem asiática, adquiriram uma forte implantação.

"Para lançar este projecto estabelecemos contactos com mais de 60 associações e comunidades e falámos com várias embaixadas", salienta o gerente da NCS, frisando que o novo Martim Moniz "é para ficar virado para a Mouraria e não de costas para a Mouraria."

O mercado de fim-de-semana, que se realizará também durante todo o ano, reunirá uma grande variedade de pequenos negócios, que vão desde as roupas aos produtos de mercearia. "Podemos ter cá uma mercearia da Mouraria, um loja de roupas do Bairro Alto, ou uma loja de Campo de Ourique. Mas também teremos o meio alternativo, com os Hare Krishna e outros grupos e associações", descreve Rebelo Pinto.

As 36 tendas a instalar ocuparão espaços quadrangulares de três por três metros e apresentar-se-ão como "uma espécie de boxes", que resultam da metamorfose semanal de uma outra estrutura destinada a garantir sombra nos dias de semana. No largo será também instalado um palco quase ao nível do solo, para reduzir o impacte visual, no qual decorrerão regularmente espectáculos de música ao vivo, workshops, conferências, espectáculos com DJ e exposições.

Em abono do seu projecto, Rebelo Pinto, que há vários anos promove em Lisboa o festival Out Jazz, evoca o seu papel na transformação do Cais do Sodré numa procurada zona de animação nocturna. "Há nove anos peguei no Cais do Sodré, que estava meio abandonado, fiz um projecto para várias casas nocturnas e hoje é o que é." Segundo o empresário, "é assim que as cidades se desenvolvem, vendo as coisas com dez anos de antecedência".

Satisfeito com a transformação prevista para o Martim Moniz mostra-se Nuno Franco, um dos dirigentes da associação Renovar a Mouraria: "É um projecto que vai contribuir para a criação de uma nova centralidade, que já está a acontecer na zona com a requalificação da Mouraria e do Intendente."

Quiosques de João Soares revivem

Foi há 14 anos, em 1998, que João Soares decidiu instalar 44 quiosques na então reabilitada praça do Martim Moniz, que assim ficou em grande parte ocupada pelas chamadas "gaiolas". O projecto pretendia trazer para o largo comerciantes de antiguidades e alfarrabistas, mas a ideia, que custou ao município mais de 650 mil euros (cada peça ficou em 15.000 euros), revelou-se um fracasso.

Meia dúzia de anos depois, os poucos quiosques que continuavam abertos centravam-se no negócio dos telemóveis e o espaço tinha-se transformado num local muito pouco recomendável. Cerca de trinta foram entregues a igrejas, associações e particulares, havendo até um que serve de escritório a um agente imobiliário na Amadora.

A actual intervenção na praça está integrada no Plano de Acção da Mouraria e resulta de um protocolo celebrado em Outubro entre a câmara e a EPUL, que lançou o concurso para a concessão da exploração dos quiosques e para a organização do mercado de fim-de-semana.

O protocolo de Outubro, assinado por José Sá Fernandes e pelo presidente da EPUL, nunca foi divulgado pela Câmara nem pela EPUL. O PÚBLICO pediu-o na sexta-feira a Sá Fernandes e à empresa, solicitando igualmente o ponto da situação sobre a remodelação da praça, mas não obteve qualquer resposta até às 17h17 de ontem. Nessa altura Sá Fernandes remeteu por email uma cópia do protocolo à redacção do PÚBLICO, quando esta página estava a ser fechada, e, meia hora depois, a EPUL distribuiu a todos os órgão de comunicação um comunicado com as informações pedidas pelo PÚBLICO na sexta-feira.

Notícia corrigida no dia 11-5-2012, às 9h48

. Hare Krishna estava escrito incorrectamente.

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