Fuga de lixiviados no Aterro da Valorsul alarma Vila Franca de Xira

Câmara reclama imediata suspensão da recepção de resíduos no aterro do Mato da Cruz e adiamento da paragem para manutenção da central incineradora.

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Valorsul reclama que detectou fuga na área do aterro no início de Abril João Henriques

A Valorsul explica que está a averiguar as causas desta ocorrência, mas considera “prematuro” dizer que houve um problema de ruptura das membranas que fazem a separação entre os resíduos depositados e o solo. A Valorsul não conseguiu detectar a origem do problema e teve que recorrer a técnicos do LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil), que estiveram nos últimos dias no local.

Os lixiviados – líquido com grande carga poluente proveniente da biodegradação dos resíduos depositados – são, normalmente, recolhidos em determinados pontos das células de deposição e bombeados para uma estação de tratamento. A sua fuga para o subsolo pode gerar problemas ambientais graves, até porque o aterro do Mato da Cruz se situa num morro rodeado por várias linhas de água e zonas habitadas do Alto de Arcena, onde há furos de captação de água. Na década passada registaram-se vários problemas de alegada contaminação de águas, mas nos últimos anos não tem havido notícia da repetição destes casos.   

O presidente da Câmara de Vila Franca de Xira reconhece a “gravidade” da situação e lamenta que o município, accionista da empresa, não tenha sido informado logo que o problema se levantou. “Estamos muito preocupados com esta situação, também porque um accionista que tem no seu território um aterro não foi informado logo desde início desta questão e veio a saber por outra via”, critica Alberto Mesquita (PS), frisando que a Câmara de Vila Franca já reclamou a suspensão do funcionamento do aterro e vai reafirmar essa exigência na reunião de 5 de Maio do conselho de administração da Valorsul e na assembleia-geral de accionistas marcada para 7 de Maio.

A Valorsul tem uma versão diferente e informa que detectou “uma fuga de lixiviados na área do aterro” no início de Abril, que “imediatamente comunicou às autoridades e à Câmara de Vila Franca de Xira, conforme procedimento definido”. Em resposta ao PÚBLICO, a empresa explica que desde então tem procurado fazer o diagnóstico do problema de forma “muito activa” e confirma que recorreu ao LNEC, para tentar esclarecer a origem da fuga. Os técnicos do LNEC “estão no terreno a averiguar as causas desta ocorrência” e o gabinete de comunicação da Valorsul diz que “é prematuro dizer que houve ruptura de membranas ou qualquer outra situação, uma vez que o diagnóstico não está concluído”. Também por isso, a empresa considera que informações sobre “eventuais consequências ambientais” são “ainda mais prematuras”.

LNEC chamado de “emergência”?
Os eleitos da Câmara de Vila Franca é que não têm a mesma opinião. Os vereadores da Coligação Novo Rumo (PSD/PPM/MPT) afirmam que os serviços do LNEC foram, na semana passada, “chamados de emergência pela Valorsul” devido ao aparecimento de “uma quantidade de lixiviados anormal, indiciando uma ruptura das membranas de fundo do aterro”. Vítor Silva quis saber se o executivo PS tem conhecimento das medidas tomadas pela Valorsul para “mitigar as consequências” deste acidente e que medidas já foram tomadas para “monitorizar a contaminação por lixiviados dos lençóis freáticos e dos solos afectados”. Questiona mesmo se a situação não justificará um aviso à população da zona envolvente para que “evite o uso de poços e furos”.

Alberto Mesquita diz que, quando soube do problema, enviou de imediato um ofício à Valorsul dizendo que o aterro “deve ser encerrado, enquanto não estiver esclarecida e resolvida a situação”. Mas o presidente da Câmara de Vila Franca recebeu, na terça-feira, um e-mail da Valorsul comunicando que a central incineradora de São João da Talha vai estar, em breve, parada durante mês e meio para trabalhos de manutenção. O edil não aceita esta situação, que levará a um aumento muito significativo dos resíduos depositados em aterro e reclama o adiamento desta paragem para manutenção.

“Isto é tudo muito curioso. Numa situação de privatização, com a preocupação de mostrarem resultados, a manutenção que devia ter sido feita em 2012 e 2013 não foi feita. E, agora, vai ser preciso fazer uma grande reparação da central. O que quer dizer que os aterros do Mato da Cruz e do Cadaval vão ficar sobrecarregados. Para nós a central tem que continuar a funcionar, não é possível ter a central parada e um problema de fuga de lixiviados por resolver no Aterro do Mato da Cruz”, sustenta Alberto Mesquita, frisando que não se sabe a dimensão do problema, mas que “não será, certamente, simples, porque a Valorsul só por si não conseguiu resolvê-lo e teve que pedir a ajuda do LNEC”.

O Aterro do Mato da Cruz ocupa uma área de 42 hectares na fronteira entre as freguesias de Alverca e da Calhandriz e neste espaço, desde o final da década de 1990, já foram depositados mais de 6 milhões de toneladas de resíduos.  

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