Descarrilamento de comboio de mercadorias deixa Beira Alta sem comboios
Reparação de estragos poderá prolongar-se pelo fim-de-semana. CP está a fazer transbordos rodoviários.
A Refer não tem ainda previsão sobre quando poderá reabrir a linha, mas é provável que os trabalhos se prolonguem durante o fim-de-semana devido à magnitude dos estragos.
O acidente aconteceu pouco depois do meio-dia com um comboio que vinha de Espanha carregado com bobinas de papel e ocorreu numa zona de descida, quando os rodados de um dos vagões saltou dos carris e veio a partir as travessas ao longo de seis quilómetros. O facto de se ter tratado do 12º de uma composição com 19 vagões fez com que esse fosse “apertado” entre os demais, não tendo a dupla de maquinistas percebido que um dos veículos ia descarrilado.
O vagão ficou em bom estado, mas a extensão de via danificada colocou à Refer um problema essencialmente logístico: conseguir material e homens para atacar imediatamente uma frente de obra com seis quilómetros numa zona sinuosa e de difíceis acessos.
Segundo cálculos do PÚBLICO, será necessário aprovisionar rapidamente 10 mil travessas para substituir as que foram danificadas pelos rodados do vagão descarrilado e distribuí-las ao longo da linha.
A interrupção da linha da Beira Alta ocorre num período dramático para a CP, em véspera de fim-de-semana e a uma semana de circularem por este local 12 comboios especiais (seis em cada sentido) entre Madrid e Lisboa com adeptos do Real Madrid e do Atlético de Madrid, os dois clubes que vão disputar a final da Liga dos Campeões, no sábado, dia 24, no Estádio da Luz.
Para este fim-de-semana, os comboios Intercidades entre Lisboa e Guarda farão transbordo rodoviário entre Coimbra e Mortágua e os regionais entre Pampilhosa e Mortágua.
Os passageiros dos comboios internacionais de Lisboa para Madrid e Hendaya, nesta quinta-feira à noite, viajarão num Intercidades até Coimbra, onde apanharão autocarros até Vilar Formoso. Em sentido contrário, o transbordo rodoviário será feito entre Vilar Formoso e Lisboa.
Este descarrilamento volta a colocar em evidência a ausência de uma redundância ferroviária à principal linha de Portugal com o exterior desde que foi encerrado o troço da linha da Beira Baixa entre Guarda e Covilhã .
São só 46 quilómetros de via férrea que impedem a ligação entre a Beira Alta e a Beira Baixa, que neste caso poderia evitar os transbordos rodoviários e assegurar a fluidez do tráfego internacional para Vilar Formoso e nacional para a Guarda.
Aquele troço encerrou para obras em 2009, mas, com a crise, foi dos primeiros projectos que o Governo mandou parar. Hoje há um subtroço já modernizado que nunca viu passar um comboio e uma parte que aguarda a conclusão do projecto.
A empresa envolvida no acidente desta quinta-feira, a Takargo, é a única operadora ferroviária de mercadorias privada em Portugal. Pertence ao grupo Mota Engil e foi fundada em 2006, sendo hoje uma séria concorrente da CP Carga, sobretudo no mercado espanhol, onde tem uma parceria com a Comsa.
Este acidente, apesar de não ter danificado a sua composição, pode trazer-lhe sérios prejuízos se se provar que a culpa foi do material circulante, devendo, nesse caso, indemnizar a Refer e a CP.