CP sem comboios adequados para responder a elevada procura na linha do Douro

Automotoras espanholas não chegam para responder aos picos de procura e empresa suprime comboios ou recorre a composições de máquina e carruagens que são mais caras.

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Paulo Pimenta

“Na origem destas supressões estão necessidades de imobilização de material que, por vezes, não é possível antecipar”, disse ao PÚBLICO fonte oficial da CP. “As linhas do Douro e do Minho nesta altura do ano registam elevados níveis de procura com a realização de diversos serviços especiais e necessidade de reforços da oferta regular, o que leva à utilização mais intensiva de todo o material disponível”, explica a mesma fonte.

Como as automotoras são em número insuficiente, a CP tem recorrido a composições formadas por locomotivas que rebocam carruagens de Intercidades. Só que, como a linha não é electrificada, o ar condicionado das carruagens tem de ser assegurado através de um furgão-gerador que é atrelado à composição e que quase duplica os custos de combustível porque funciona também a diesel. No furgão viaja ainda um funcionário, o que aumenta igualmente os custos com o pessoal.

O nível de comodidade é, evidentemente, superior ao das automotoras, mas a exploração poderia ser mais barata se a empresa optasse por colocar ao serviço carruagens vulgares tal como há alguns anos ainda circulavam no Douro. Não têm ar condicionado, mas por isso mesmo, têm a vantagem de se poder abrir as janelas para melhor apreciar a paisagem.

Comboios assim formados seriam mais baratos, mas a CP entende que isso seria regredir uma década e mantém que nenhum comboio em Portugal pode circular sem ar condicionado, receando que tal provoque um aumento das reclamações.

“Penso precisamente o contrário. A maioria dos passageiros do Douro agradecia se pudesse viajar em comboios onde as pessoas pudessem abrir a janela para melhor desfrutar da paisagem pois é esse o principal motivo da viagem”. Diogo Castro, da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro (APAC), diz que esta é uma opinião que não é exclusiva dos entusiastas da ferrovia e refere a experiência que viveu no início do Verão quando viajou com a família e amigos entre a Régua e o Pocinho.

“A automotora estava toda grafitada e como as janelas não se abrem, tivemos que procurar um lugar onde se pudesse ver a paisagem. Fomos ao Pocinho e voltámos e reparámos que grande parte dos passageiros fizeram também o mesmo percurso porque o objectivo era a viagem em si mesmo. Havia famílias, grupos, pessoas com mochilas e bicicletas para fazerem caminhadas e passeios. Os passageiros regulares eram uma minoria. Não tenho dúvidas que a experiência da viagem sairia reforçada se as pessoas pudessem abrir as janelas para ver a paisagem, a linha, o rio, o comboio”.

O também economista diz que a CP poderia durante o Verão e aos fins-de-semana pôr a circular as antigas composições formadas por máquina e carruagens para responder precisamente a este tipo de procura. “As pessoas não só não reclamavam pela falta do ar condicionado, como até estou convencido que estariam dispostas a pagar um pouco mais pelo bilhete”, diz. De resto, países como a Suíça, a Itália e a Alemanha têm em circulação comboios com carruagens onde é possível abrir as janelas, razão pela qual não percebe este “dogma” da CP em manter as pessoas confinadas ao interior da composição quando o motivo da viagem é a experiência de circular numa das linhas de caminho-de-ferro mais bonitas do mundo.

Em 2004 a CP investiu 1 milhão de euros na recuperação de uma composição a que chamou Comboio do Vinho do Porto que, quatro anos depois e após ter realizado 250 viagens, ficou parqueada em Contumil sem nunca mais ter sido utilizada. Diogo de Castro diz que esta composição, com largas janelas e excelentes condições panorâmicas, era óptima para circular no Douro e que, se a CP quisesse, poderia recorrer a fundos comunitários para a recuperar.

António José Xavier, coordenador de um curso de Turismo nas Caldas da Rainha, realizou nos últimos três anos duas visitas de estudo ao Douro com alunos e professores da sua escola. No passeio de comboio entre a Régua e o Pocinho notou que as expectativas altas que existiam em relação à viagem saem frustradas porque as automotoras estão grafitadas e mal se vê a paisagem.

Para este professor de Geografia, que está concluir um mestrado em Turismo, a linha férrea que acompanha o rio Douro é de uma beleza ímpar, pelo que merecia uma atenção especial da CP com comboios mais adequados à motivação dos passageiros que ali viajam. E tece também críticas à Refer pois, a par de estações recuperadas, há algumas em estado de total abandono.

Para a CP, porém, pode ser tarde para recuperar os comboios que durante décadas fizeram parte da própria paisagem duriense. Para reduzir custos, a empresa abateu e mandou demolir dezenas de carruagens que agora poderiam ser utilizadas. Em contrapartida paga dezenas de milhões de euros pelo aluguer de automotoras espanholas que já estavam fora de serviço no país vizinho e que não são propriamente do agrado dos portugueses porque são barulhentas e têm um grau de conforto que está longe dos padrões actuais.

O PÚBLICO perguntou à CP quanto custou o aluguer do material espanhol, mas a empresa recusou responder, apesar da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos ter deliberado que essa informação é pública.

Comboios especiais para a Festa das Vindimas
De 20 a 27 de Setembro a CP reedita um programa turístico que consiste numa viagem em comboio especial entre o Porto e a Régua, que prossegue depois em autocarro até à Quinta de Campanhã. Nesta propriedade os convivas podem participar nas actividades da vindima, incluindo as “lagaradas”, animadas por cantares de um rancho folclórico. O programa inclui almoço e degustação de vinho.

 A saída do Porto é às 9h00 e o comboio regressa da Régua às 17h43 para chegar a Campanhã às 19h22. O programa custa 49 euros para adultos e 29 euros para crianças dos cinco aos 12 anos.

 

 

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