Chef Rui Paula desafiado a conseguir estrela Michelin para a Casa de Chá da Boa Nova
Câmara de Matosinhos espera que o novo restaurante do Chef Rui Paula, que abre em Junho na casa desenhada por Siza em Leça da Palmeira, junte a excelência da arquitectura à cozinha topo de gama.
Rui Paula vai mudar a filosofia do DOP, no Porto, colocando-o na rota de uma clientela mais alargada, por via de uma aposta em preços mais acessíveis e numa carta que, assinalou, será um regresso às origens, a uma cozinha mais tradicional, saída das mãos de uma equipa que ele vem formando há anos. O seu lado mais experimental ficará agora reservado para a Casa de Chá, um espaço com vistas largas para o horizonte e para a ambição do chef, que gostaria muito de alcançar uma estrela Michelin. Embora garanta que “não se vai dobrar” perante os ditames de quem decide o galardão. “Vou trabalhar para a minha clientela. É essa que tenho que respeitar”, assinalou.
O novo restaurante de Rui Paula abre em Junho. Esta segunda-feira, o contrato de concessão foi assinado numa sala empoeirada, à vista dos operários que continuam as obras de reabilitação do imóvel. Estas demoraram mais do que o previsto, e um dos motivos apresentados foi a necessidade de produzir, por encomenda, as telhas iguais às que lá existiam, como exigiu Siza Vieira. O arquitecto tem acompanhado a empreitada, e tem feito concessões, admitiu o novo inquilino, mostrando, a seguir, algumas alterações realizadas já na zona da cozinha. Uma área que passa a estar aberta à visita dos clientes, durante as refeições, e onde Paula promete até instalar uma pequena biblioteca temática.
Casar um monumento nacional, uma das mais conhecidas obras de Siza, com a Haute Cuisine de Rui Paula pareceu a Guilherme Pinto a solução perfeita para a nova vida da Casa de Chá, terminada a concessão anterior, no final de 2012. O autarca de um concelho conhecido pelos muitos, e alguns bons, restaurantes, não queria ver aqui “mais um”, e desafiou Rui Paula a ficar com o espaço. Esta segunda-feira, este explicou que a primeira vez que visitou o espaço ficou “dez minutos atónito”, parado num degrau de onde se assomam a terra, o céu, e o mar pelo meio. “Eu tenho o DOC, no Douro, que é lindíssimo, sobre a água. Mas como isto nunca tinha visto”, assumiu, ladeado pelo irmão Pedro, seu sócio.
Para este desafio que nasce de uma “paixão à primeira vista”, Rui Paula não deverá contratar mais do que uma ou duas pessoas. Os vinte que aqui trabalharão sairão das equipas que ele vem formando. “Contando com as onze que trabalham no restaurante que temos no Brasil, empregamos oitenta pessoas. Houve uma altura em que garantíamos emprego a 50 mesmo quando precisavamos apenas de 15”, assinalou, explicando que esta estabilidade do seu staff lhe permite formar as pessoas e abrir o restaurante mal acabem as obras. Para além da sala de refeições, o edifício continuará a contar com outra sala que funcionará como bar.
Com o mar a entrar pelos olhos dos clientes, a Casa de Chá vai ter uma carta rica em peixes e mariscos, não descurando algumas carnes especiais, como a caça, e outros produtos, como as trufas, para além dos legumes da época. Rui Paula promete comprar o que lhe está mais próximo, pela qualidade “excepcional do peixe” nacional ainda que lamente que numa costa tão rica, tenha de comprar a espanhóis produtos comuns como os ouriços e as algas que entram em algumas das suas receitas. Estas serão postas à prova pelos clientes já no Verão, numa sala onde, no limite, caberão 40 pessoas.
O arrendamento da Casa de Chá da Boa Nova custará dois mil euros mensais a Rui Paula – que fica com o encargo de investir no interior do restaurante, sob supervisão de Siza Vieira. A renda não vai contudo para a câmara de Matosinhos mas para a Associação Casa da Arquitectura, fundada no concelho onde nasceu o primeiro prémio Pritzker português.
O autarca Guilherme Pinto considera que esta receita é um primeiro passo para a autonomia desta entidade que, sedeada em Matosinhos, tem como missão gerir o centro de documentação Álvaro Siza e que pretende, no futuro, reunir espólio de outros arquitectos portugueses, constituindo-se como fundação. A Casa da Arquitectura zelará pela preservação da Casa de Chá nos termos em que Siza a desenhou e organizará visitas guiadas ao espaço, fora dos horários das refeições.