Cadela sem bilhete no comboio suscita intervenção da GNR e vaga de indignação no Facebook
GNR confirmou que os agentes “foram obrigados a usar a força”, já que os rapazes, ambos de 19 anos, “se recusaram a sair do comboio para comprar o bilhete” para o bicho.
A primeira demarcou-se do episódio sem o confirmar ou desmentir; a GNR apresentou uma versão diferente da assinada pela autora do texto, mas confirmou que deteve os jovens e que que foi “obrigada a usar a força” para os fazer sair do comboio.
O caso foi tornado público esta quinta-feira por "MM" num longo texto, aparentemente dirigido aos “amigos” que tem naquela rede social. Fê-lo acompanhar por três fotos. Uma delas, desfocada, mostra os agentes da GNR que estão a agarrar os dois jovens.
Dizendo-se revoltada, MM contou, no seu mural, aquilo que na sua perspectiva aconteceu depois de um jovem ter entrado no comboio, na Estação de Ovar, com “uma cadelita” que descreve como sendo “super-meiga e muito novinha”.
Sem questionar a obrigatoriedade de o transporte de animais implicar a compra de bilhete, MM critica o revisor, por este não ter aceite os dois euros que aquele custaria e que tanto o dono da cadela como outros passageiros e ela própria se terão oferecido para lhe entregar. Segundo escreve, “a polícia”, chamada pelo revisor, terá intervindo pouco depois, na Estação de Estarreja. “Chega a polícia e identifica o rapaz. Diz-lhe que deveria ter pago 2€, todas as pessoas (repetem) que pagam os 2€ e o que faz a polícia???? Adivinhem...agarram o rapaz à bruta (…) Bateram no rapaz sem qualquer problema, bateram no amigo como se de dois assassinos se tratasse”, relata MM.
Versões diferentes
Ao PÚBLICO, o porta-voz do comando de Aveiro da GNR confirmou que os agentes “foram obrigados a usar a força”, já que os rapazes, ambos de 19 anos, “se recusaram a sair do comboio para comprar o bilhete”. Segundo disse, a detenção dos jovens, que hoje foram presentes a tribunal para prestar declarações, deveu-se à alegada prática de crimes de “injúrias, resistência e agressão sobre funcionário”.
Num vídeo posto a circular na Internet, vê-se os agentes da GNR em diálogo com um jovem, sem que seja perceptível o que dizem nem quanto tempo durou o diálogo. A situação altera-se subitamente, quando um elemento da GNR se dobra e agarra o jovem pela cintura, conseguindo empurrá-lo para fora do comboio. O que se passa na gare não é perceptível, devido ao reflexo do vidro, uma vez que as imagens foram gravadas do interior da carruagem.
As partilhas directas do texto a partir do mural de MM pouco passavam, ao fim da tarde desta sexta-feira, das 5500. Mas várias pessoas terão copiado na íntegra o texto, que foi partilhado milhares de vezes, a ponto de a CP se sentir obrigada a emitir uma nota à imprensa. “Face ao teor de várias mensagens que se encontram a circular, nomeadamente em redes sociais (..) a CP – Comboios de Portugal, EPE vem por este meio esclarecer os factos efectivamente ocorridos”, pode ler-se na nota.
Na versão da CP, o revisor do comboio com partida de Campanhã às 18h05 e destino a Aveiro, “detectou um passageiro que transportava consigo um animal de companhia, apresentando apenas um título de transporte” e convidou-o a regularizar a situação. O passageiro em causa, adianta, “manifestou a sua indisponibilidade para proceder ao pagamento devido, tendo instado o colaborador da CP a convocar as autoridades”.
Foi na sequência daquele episódio, informa o gabinete de comunicação da empresa de transportes, que o revisor chamou “um agente da autoridade que se encontrava a bordo”. “ O passageiro em causa, para além de continuar a recusar o pagamento do transporte devido, recusou ainda identificar-se perante o agente de autoridade, quando a isso foi instado. A partir deste momento, as autoridades policiais tomaram conta da ocorrência”, concluía a CP, que regista “a correcta actuação” do seu colaborador.
Também a PSP se pronunciou sobre este caso. Optou por o fazer na sua página oficial no Facebook, depois de ter “recebido inúmeras queixas referente a um episódio que terá ocorrido na estação da CP de Ovar”: “Porque somos sensíveis a estes assuntos e por estar em causa uma suposta intervenção policial, diligenciámos para perceber se o ocorrido teria envolvido a PSP. Agradecemos todos os testemunhos e denúncias que recebemos nas últimas horas sobre o ocorrido mas esta intervenção ocorreu fora da nossa alçada de intervenção”, informou.
Cadela sim, "senhora romena" não
O relato de MM suscitou nas redes sociais comentários muito críticos em relação ao funcionário da CP e aos elementos da GNR. No texto em que pergunta se os polícias não deviam ser “mais humanos”, a própria MM critica a CP. Conta que em Ovar costuma entrar “uma senhora Romena que cheira pior que um animal selvagem ou abandonado ou quase morto” e refere que “já foi pedido a muitos revisores que não a deixassem entrar, por uma questão de saúde pública”. “A resposta é: tem bilhete! Pois... mas eu prefiro viajar com uma cadelinha”, conclui MM, que pede aos amigos para partilharem o texto e defende que “nunca nos devemos calar”.
Notícia alterada: acrescentado o 7.º parágrafo sobre o vídeo