BBC News viu no Porto uma “Detroit europeia” ou uma “mini-Havana”

Cada esquina “é um monumento à crise económica”, escreve o repórter britânico.

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“Caminhando pelo centro da cidade, encontram-se não só lojas fechadas, mas quarteirões inteiros de casas abandonadas.  O Porto está a tornar-se rapidamente numa espécie de Detroit [a cidade norte-americana que, após o declínio da indústria automóvel, declarou falência] europeia ou de mini-Havana [a capital de Cuba, país alvo de bloqueio económico por parte dos EUA ]”, descreve-se.

Assinado por Nigel Cassidy, o texto abre com a descrição de mulheres que lavam a roupa nos tanques comunitários, de pedra e água fria, da escarpa das Fontainhas. A cena parece ter impressionado o repórter, que sustenta que este quadro não teria nada de especial noutras partes do globo, mas que não seria expectável aqui: “Estamos num país da União Europeia, no centro da segunda maior cidade do país e capital regional”, enfatiza, desconhecendo por certo que os tanques das Fontainhas e de outros pontos da cidade sempre foram utilizados, mesmo sem crise.Mas o repórter britânico acreditou ter visto neste “equivalente medieval de uma lavandaria” o sinal de que há gente sem emprego, com contas de energia por pagar e sem meios para substituírem uma máquina de lavar avariada.

A reportagem também refere a existência de “muitas as centenas de edifícios” em estado de ruína e salienta que, embora haja quem garanta que o Porto sempre foi uma cidade que sugere uma certa melancolia, o certo é que agora cada esquina “é um monumento à crise económica”.

Observa que das dificuldades também pode surgir a inovação e dá o exemplo do negócio criado por alguns arquitectos desempregados, que criaram o The Worst Tours. É um serviço que também mostra o Porto dos becos, das tascas, das ruas de má fama e dos mercados degradados. “O passeio mostra o impacto real” do programa de ajustamento imposto pelo resgate financeiro de Portugal, como as duas mil empresas encerradas na cidade apenas nos dois últimos anos, acrescenta.

Ressalva que estas visitas guiadas são assumidamente comprometidas, do ponto de vista ideológico, e que a guia, a arquitecta e artista gráfica Gui Castro Felga – conhecida pelos cartazes que elaborou para manifestações e outras acções políticas –, pretende mostrar que as medidas de austeridade não são algo de teórico, mas qualquer coisa de concreto em que as pessoas podem tocar ou sentir enquanto passeiam pela segunda cidade do país.
 
 
 

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