Autarca de Vila Chã do Marão ainda não conseguiu entrar no gabinete
Fernando Gonçalves é que é o presidente da junta, mas ainda não se sentou na cadeira do gabinete. Acusa o antecessor de não lhe entregar a chave. Caso seguiu para o Ministério Público.
O antecessor no cargo, o também independente Rui Coelho – que foi impedido de se recandidatar por decisão do Tribunal Constitucional – não tem facilitado a vida ao novo inquilino da junta de freguesia, que ainda não conseguiu ocupar o gabinete que lhe está reservado. O contacto com a população, contou Fernando Gonçalves ao PÚBLICO, só pode ter lugar na sala de atendimento de que a junta dispõe, dado que, alega, Rui Coelho mantém em seu poder as chaves do gabinete que ocupou durante vários anos. Fernando Gonçalves acrescenta que o ex-presidente “se recusa a devolver as chaves” do edifício da junta, onde “é visto frequentemente”, e queixa-se de outras dificuldades com que se deparou e que o levaram a fazer uma exposição ao Ministério Público.
Várias pessoas ouvidas pelo PÚBLICO asseguram que Rui Coelho se comporta “como se ainda fosse o presidente da junta e diz que quem manda é ele”. Fernando Gonçalves garante que, há cerca de duas semanas, a mulher do antecessor entrou na junta de freguesia e lhe dirigiu um “conjunto de impropérios”, que o novo autarca diz preferir não reproduzir, "por uma questão de decência". “Pediu-me se podia entrar na sala e depois insultou-me. Disse que o marido é que era o presidente, e não eu. Não lhe respondi e virei-lhe as costas, porque tenho mais juízo e paciência do que eles”, relata Fernando Gonçalves.
O presidente da Junta de Freguesia de Vila Chã do Marão fala de uma “grande pressão” de que estará a ser alvo por parte do seu antecessor, que pretenderá forçá-lo a abandonar o cargo. Mas Fernando Gonçalves garante que não vai renunciar e que respeitará a vontade expressa pelos eleitores, ficando até ao final do mandato. O facto de não poder ocupar o gabinete a que tem direito aborrece-o e diz que já pediu as chaves ao antecessor, sem sucesso.
"Eu era o presidente da junta..."
Contactado pelo PÚBLICO, Rui Coelho negou manter em seu poder as chaves das instalações da junta, mas acabou por admitir que vai lá “frequentemente”, já depois de ter declarado “ser mentira” que visitasse a junta. “Isso é mentira", começou por dizer em relação às chaves. "Eu nem frequento a junta”, chegou a dizer.
O independente que os eleitores de Vila Chá do Marão escolheram a 29 de Setembro para dirigir a freguesia dá conta de que os outros dois elementos do seu executivo, a secretária Margarida Machado e a tesoureira Sílvia Marlene, estão ao lado do anterior presidente e entendem que aquele deve continuar a ter as chaves da sede da junta.
Refutando as acusações de estar a impedir que o presidente eleito assuma a gestão da junta de forma tranquila, Rui Coelho não esconde o orgulho pela influência que considera ter mantido na freguesia e proclama: “A equipa que está na junta é minha. Fui eu que pus lá o presidente. Podia nomear outra pessoa, porque eu era o presidente da junta…”
Quanto ao facto de o gabinete que ocupou enquanto autarca estar inacessível ao sucessor, limita-se a comentar: “O gabinete está lá, eu não o trouxe comigo. Se não está ocupado, é porque o senhor presidente não o ocupa ou não tem capacidade para o ocupar”.
Eleito duas vezes presidente de junta, uma pelo PSD, em 2005, e outra como independente, em 2009, liderando o Movimento Sempre Vila Chã do Marão, Rui Coelho foi impedido de disputar as eleições do ano passado. O PS apresentou uma queixa em tribunal, alegando que Rui Coelho não reunia as condições para ser candidato, por se encontrar em situação de insolvência. O tribunal deu razão ao PS, o ex-presidente da junta ainda recorreu para o Tribunal Constitucional, mas perdeu. Com Rui Coelho afastado da corrida autárquica, Fernando Gonçalves acabou por ser indigitado para encabeçar a lista do movimento independente e conquistou a junta. Mas não a cadeira de presidente.