Aumento da produção de azeitona no Alentejo tem vindo a reduzir substancialmente o seu preço
Governo já reconheceu a marca “Azeite do Alentejo”, mas continua a faltar uma associação de olivicultores que comercialize o produto que, em grande parte, é enviado para Espanha a granel.
Ainda a campanha não chegou a meio e já é possível aferir a grande quantidade e qualidade de azeitona colhida no Alentejo. Sebastião Rodrigues, presidente da Associação de Agricultores de Serpa, garantiu ao PÚBLICO que os olivicultores da margem esquerda do Guadiana “há muitos anos” que não beneficiavam de uma campanha tão boa.
A nível nacional, os dados publicados em Outubro pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), acerca das previsões para a campanha em curso, já apontavam para um “aumento considerável” na produção dos olivais, antecipando um crescimento superior a 40%, face às quantidades colhidas em 2012, ano em que já se registara um aumento de 19% em relação a 2011.
A razão desta elevada produção de azeitona, dizem os especialistas, está em grande parte associada às condições climatéricas que se verificaram ao longo de 2013. Nos olivais a floração foi “abundante e decorreu sem problemas, pelo que as árvores apresentam uma carga de frutos bastante razoável”, assinalou nessa altura o INE.
No entanto, a maturação da azeitona atrasou-se duas semanas por não ter chovido quando fazia falta e a azeitona ainda se encontrava muito verde no início da época normal da apanha, que no Alentejo se verifica ainda em Outubro.
Mesmo assim, este percalço não interferiu com a qualidade do azeite.
Sebastião Rodrigues garante que a campanha de 2013 pode ser classificada de “excepcional”, mas lamenta que o preço da azeitona esteja muito baixo, entre os 25 e os 27 cêntimos por cada quilograma. O dirigente associativo compara este valor com o praticado no início dos anos 80 do século passado, quando o preço por quilo oscilava entre os 40 e os 65 cêntimos — ou seja, praticamente o dobro.
A elevada produção de azeitona que também se regista em Espanha — o maior produtor mundial de azeite, com 1.389.600 toneladas de azeite produzido na campanha de 2012 — é a causa directa do abaixamento dos preços, factor ao qual acresce ainda a circunstância de ser o país vizinho a “definir e controlar os preços em Portugal”.
Muita da azeitona produzida nas explorações alentejanas “é vendida a intermediários que a colocam em lagares localizados em Vila Nova de Ourém, no centro do país, e em Espanha”. Grande parte do azeite “segue em granel” para Espanha e depois vai para Itália, onde é embalado e rotulado com marcas deste país, conforme determina a legislação comunitária, afirma Sebastião Rodrigues.
Em Portugal, e sobretudo no Alentejo, os lagares particulares “não são suficientes” para processar toda a produção da região, constata o dirigente associativo, criticando a falta de interesse dos produtores olivícolas alentejanos pelo associativismo, dando como exemplo o elevado número de marcas de azeite nas prateleiras dos supermercados.
Apesar de o Governo já ter reconhecido a marca “Azeite do Alentejo”, quatro anos após o Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPPAL) ter efectuado o respectivo pedido, a materialização deste objectivo está por concretizar. Henrique Herculano, director executivo do CEPPAL, esclareceu que o processo de reconhecimento da marca “Azeite do Alentejo” pela Comissão Europeia está ainda a decorrer. Contudo, o reconhecimento feito pelo Governo português já permite a comercialização da marca “Azeite do Alentejo” no mercado nacional, frisa Sebastião Rodrigues, embora esse facto não tenha produzido até agora resultados significativos.