Até ao fim de Agosto, os banhistas da Caparica partilham a praia com uma retroescavadora

Alimentação artificial das praias do concelho de Almada arrancou nesta segunda-feira e vai ser feita por fases. Depois da praia do Tarquínio, é a vez da do CDS.

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Trabalhos começaram nesta segunda-feira sob o olhar atento de dezenas de curiosos Enric Vives-Rubio
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Os surfistas parecem alheios aos trabalhos que decorrem a poucos metros, mas em terra Enric Vives-Rubio
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Praia do Tarquínio está interdita mas na zona da praia do Paraíso dá para estender a toalha Enric Vives- Rubio
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Até ao final da semana, a praia deverá "engordar" Enric Vives-Rubio

Esta é a primeira das 13 praias ou troços de praia da Caparica a ser alvo da alimentação artificial de areia, que custa ao Governo cinco milhões de euros – menos 20% do que inicialmente estimado. Este valor é apenas uma pequena parte do investimento previsto este ano para a gestão da orla costeira, que ronda os 300 milhões de euros. Segundo o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, das 18 intervenções programadas para 18 municípios, no valor global de 16 milhões de euros, cerca de uma dezena estão já concretizadas ou em curso.

Na Caparica, concelho de Almada, os preparativos começaram a 27 de Junho mas a reposição de areia propriamente dita só começou nesta segunda-feira. A conclusão está prevista para 26 de Agosto, a um mês do fim do Verão, embora o ministro Moreira da Silva tivesse anunciado em Fevereiro que tudo estaria pronto a tempo do início da época balnear.

"Devia ter começado mais cedo, em Março ou Abril", considera Ana Maria, que passa os Verões na Caparica há quase 60 anos, tantos quanto tem no bilhete de identidade. "Isto é deitar dinheiro fora, a areia fica aí em Julho e Agosto mas depois o mar leva-a outra vez", acrescenta a amiga Conceição, de 71 anos. No meio do público que se junta no paredão, ouvem-se as mesmas críticas. "É eles a porem e o mar a levar."

O presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Nuno Lacasta, contrapõe. "Em bom rigor, do ponto de vista da janela de oportunidade, não teria sido possível realizar isto mais cedo. As obras têm que ser feitas nesta altura, é quando o mar permite", afirma, sublinhando que o clima não permitiu avançar com os trabalhos mais cedo. O presidente da Câmara de Almada, Joaquim Judas (CDU), que tem criticado os atrasos, acabou por reconhecer nesta segunda-feira que as condições do mar não estiveram de feição.

Praias fechadas durante uma semana
A intervenção, que consiste na deposição de um milhão de metros cúbicos de areia nas praias da Caparica e de S. João da Caparica, vai ser faseada. “Apesar de no período de maior intensidade chegarmos a ter três dragas em funcionamento, garantimos que cada intervenção demora uma semana a dez dias”, diz Lacasta. Em praias mais pequenas vai ser necessário fechar todo o areal durante esse período, mas nas maiores serão interditos apenas troços, deixando lado a lado os chapéus-de sol e a retroescavadora.

A reposição na praia do Tarquínio devia ter arrancado no sábado mas foi adiada devido a uma avaria no gerador. Nesta segunda-feira, a retroescavadora começou a trabalhar aos primeiros raios de sol, perante dezenas de curiosos. Ali ao lado, no mesmo troço de praia mas mais a Sul, no Paraíso, não faltam toalhas e chapéus-de-sol. Carmen Pica, de 75 anos, e a prima Rosete ficam na barraquinha vermelha mesmo à entrada, de onde conseguem ver a máquina. Não se incomodam com o barulho e acreditam que a intervenção em curso é um mal necessário. "Estão a fazer bem, porque o mar leva muita areia todos os anos e este Inverno foi ainda mais rigoroso", observa Carmen Pica.

Não há banhistas na água (o nadador-salvador hasteou a bandeira vermelha) mas na zona da rebentação dezenas de surfistas parecem alheios às movimentações da retroescavadora. Com um braço metálico, a máquina tira areia daqui e repõe acolá. A areia chega à praia através de uma grande tubagem de metal e borracha, que entra pelo mar e vai até 700 metros da costa. É para esse local, assinalado por duas bóias cor-de-laranja, que a draga vinda do canal do Porto de Lisboa, da zona onde o Tejo encontra o Atlântico, se dirige de quatro em quatro horas carregada de areia retirada do fundo. A areia molhada é projectada na tubagem e quando chega a terra parece uma chuva de água acastanhada. A retroescavadora distribui a areia pelo areal.

Depois da praia do Tarquínio, segue-se a do CDS, no início da próxima semana. Nesta praia, também muito fustigada pelo mau tempo que se registou em Janeiro e Fevereiro, o areal já nem se vê. Alguns banhistas aproveitam para estender a toalha nas rochas e apanhar banhos de sol. "Gosto de estar deitada na rocha, é menos confortável mas assim não me encho de areia", justifica Maria do Céu Fátima, que goza a manhã de sol antes de ir trabalhar. A partir de domingo e até quinta-feira, Maria do Céu terá que encontrar outro poiso.

Além dos inconvenientes para os banhistas, a demora na reposição de areia tem provocado prejuízos aos concessionários dos restaurantes à beira-mar, que ainda estão praticamente vazios. "Está a ser equacionada pela Costa Polis a extensão dos contratos de concessão [habitualmente de cinco anos], para que os comerciantes tenham mais tempo para amortecer o investimento", adianta Nuno Lacasta.

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