Arquitecta de Leiria lança “vaquinha colectiva” para transformar quinta em parque verde
Ideia consiste em criar uma entidade que reúna fundos destinados a adquirir uma quinta no interior da cidade, para que esta não seja urbanizada.
Apesar de Eunice Neves já ter, há oito anos, projectado a transformação daquela área num parque público, enquanto estudante de arquitectura paisagista, foi no Verão deste ano que a proposta ganhou expressão. Numa rede social, a arquitecta partilhou a ideia de que a cidade poderia adquirir o espaço. “Poderíamos entre todos fazer uma ‘vaquinha colectiva’, em inglês crowdfunding, para salvaguardar que não fosse urbanizado e que lá crescesse o parque da cidade que Leiria não tem”, relata a promotora da iniciativa.
O seu sonho acabaria por ser lançado publicamente, há poucas semanas, num evento realizado em Leiria. Desde aí não tem deixado de reunir adeptos.
Para Eunice Neves, a Quinta da Portela, pertencente à família Charters d’Azevedo, “tem muito potencial para ser um parque verde para a cidade de Leiria”. “É um espaço com boa localização na malha urbana da cidade e que facilmente pode ser integrado na infra-estrutura viária da mesma”, diz, destacando a “exposição solar fantástica e com vistas fenomenais para a cidade, nomeadamente para o castelo”.
Por outro lado, acrescenta, “tem um grande valor ecológico por ser um espaço totalmente permeável no centro de uma cidade que não tem estrutura ecológica e onde o espaço desta quinta funciona como um pequeno pulmão verde, propiciando um efeito tampão em relação à poluição, à biodiversidade e às amplitudes térmicas da cidade".
Quinta está à venda
Uma vez que a Quinta da Portela está à venda e tem um projecto de urbanização já aprovado, aquela arquitecta teme que ali surja um empreendimento imobiliário. “Compreendemos que a família esteja no seu pleno direito de fazer o que entender com a sua propriedade, pois não seria justo que, por terem sido das últimas famílias a salvaguardar um espaço verde destas dimensões no centro da cidade, não estivessem no seu direito”, observa.
Contudo, Eunice Neves, que tem estado a trabalhar a ideia com Tatiana Vivilde, acredita na criação de um movimento da sociedade civil que “se pode tornar um marco extraordinário na história da participação cívica na cidade e no país”. “Temos uma equipa de cidadãos, cada vez mais polivalente e completa, interessada em trabalhar por esta causa”, refere, adiantando que actualmente estão a “identificar qual será a melhor entidade a criar para salvaguardar esta causa”. Para já, salienta, a iniciativa conta com “voluntários no apoio jurídico, arquitectura paisagista, marketing, educadores, agricultores, comerciantes e outros profissionais”.
As mentoras da ideia pretendem “fazer história com o intuito de mostrar à sociedade que se as pessoas se unirem por uma causa de valor como esta podem chegar longe”. Acreditam que o movimento da sociedade civil “poderá ir além do seu objectivo de preservar o espaço como uma área verde de Leiria."
A ideia foi recebida com alguma surpresa pela família proprietária, que duvida, à partida, de que os leirienses consigam a verba necessária para adquirir o espaço, e que, segundo algumas fontes, poderá atingir os quatro milhões de euros. “Leiria pensa muito com o coração e portanto faz coisas sem pensar”, diz Ricardo Charters d’Azevedo, um dos filhos do proprietário, acrescentando que a área “não tem dimensão para ser um Serralves. São 17 mil metros quadrados, o que corresponde a duas praças, não é assim tão grande”.