Algarve perde a marca do licor Brandymel, um dos ícones da região

Os netos do homem que descobriu a fórmula da bebida espirituosa, criada há 62 anos, vão lançar o Dom Cristina, à imagem e semelhança do brandy original

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Oliveiros Cristina, um comerciante algarvio, foi quem criou, há 62 anos, a fórmula e a marca Brandymel, numa altura em que havia muitos licores, mas de marca branca. O filho, David Cristina, engenheiro químico, comenta: “O meu pai tinha uma enorme vantagem sobre mim – o paladar muito apurado”. A composição da bebida, à base de mel e aguardente, diz, é aromatizada com plantas silvestres que lhe dão o “toque” que faz a diferença. É na introdução das ervas, observa, que pode residir o que “vulgarmente se designa por segredo”. Na verdade, comenta, “não existem segredos – com uma análise química completa descobre-se tudo, nesta como noutras bebidas” Desta forma, o industrial derruba alguns dos mitos que foram sendo criados pela força do marketing. No entanto, não deixa de sublinhar que há “conhecimentos familiares” que vão passando de geração em geração, e no seu caso o saber foi transferido para os filhos.

Apesar de ter perdido a batalha judicial pela posse da marca da bebida espirituosa, a família Cristina não se dá por vencida. Os três filhos de David Cristina estão a preparar o lançamento do licor Dom Cristina, que dizem ser em honra do avô Oliveiros Cristina. O formato da garrafa e o rótulo são semelhantes ao original Brandymel, agora fabricado numa unidade em Castelo Branco. O regresso da produção ao Algarve está a ser equacionado “quando existirem condições”. Os armazéns que a empresa possui em Portimão não permitem uma produção em moldes modernos.

A empresa tem actualmente uma produção anual de cerca de 130 mil garrafas, dos quais 5% se destinam à exportação para os Estados Unidos da América. “Vendemos para o chamado mercado da saudade, onde há emigrantes – até na Austrália estamos presentes”.

A marca foi registada em 1952, por Oliveiros Cristina, com o nome Brandemel, passando a ser comercializada com a marca Brandymel. Passados 48 anos, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial autorizou o registo do nome a favor de um indivíduo que descobriu que, formalmente, tinha caducado o registo há mais de uma dezena de anos embora a bebida continuasse (e ainda permanece) à venda, produzido pela empresa familiar original – Cristinalda.

Em 2002, o novo titular da marca - dois anos depois de ter efectuado o registo -, transaccionou-a para uma sociedade comercial que se dedica ao fabrico e engarrafamento de bebidas alcoólicas e comercialização e armazenamento de álcool etílico não vínico. “A pessoa que obteve o registo nem tentou falar connosco, é estranhíssimo”, comentou David Cristina, justificando a caducidade do direito ao uso da marca com uma perda de correspondência após a morte do pai.

Adeus Tia Anica
A aguardente de medronho Tia Anica, fundada em 1962, é outra das marcas com história no Algarve mas já não se produz desde 1977, altura em que faleceu o criador da marca, Artur Marcos Guerreiro. “Com a sua bica, beba tia Anica” foi um dos slogans publicitários utilizados para promover o produto a nível nacional. Artur Mariano, um dos três filhos de Artur da “Cabaça”, designação por que também era conhecido o produtor da aguardente, afirmou: “O meu sonho era voltar a engarrafar a Tia Anica, porque ainda tenho a marca registada”. No entanto, já existe um licor de café, com a designação Tia Anica de Loulé.

O local onde se produzia a aguardente, o monte da “Cabaça”, na freguesia de Salir – Loulé, perdeu o último morador em 1987, altura em que morreu a avó de Artur Mariano, agricultor, residente em Boliqueime. A produção de medronho, na serra do Caldeirão, tem vindo a aumentar, mas o fruto nas zonas mais agrestes não é aproveitado. O encerramento das velhas destilarias familiares - por não conseguiram cumprir a apertada malha legislativa - levou ao abandono da produção de aguardente e das terras do interior. No monte da Cabaça restam as paredes das casas, em ruínas.  
 

   

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