Ainda se deitam contas aos estragos feitos pelo mar de segunda-feira
A forte agitação marítima que se fez sentir durante a tarde e noite de segunda-feira deixou um rasto de estragos um pouco por toda a costa portuguesa, com embarcações, estabelecimentos comerciais, apoios de praia e mobiliário urbano danificados.
Segundo o vice-presidente da Câmara de Gaia, Patrocínio Azevedo, a evacuação da escola primária da Marinha, na freguesia de Valadares, foi ditada pela agitação do mar mas pretendeu apenas “evitar o pânico”. “Não se registaram feridos nem situações de alarme extremo, mas, para evitar o pânico e uma vez que esta escola está junto à costa e o passadiço desta zona já foi destruído pela agitação do mar, decidiu-se prevenir” com a retirada das crianças, explicou o autarca.
Ainda no concelho de Gaia, pelo menos três quilómetros de passadiços de praia ficaram destruídos, nos dois últimos dias, e cerca de mais dois quilómetros danificados. As estruturas que passam por cima das ribeiras também ficaram parcialmente destruídas, confirmou Patrocínio Azevedo. “É prematuro avançar com valores, mas estamos a falar na ordem de alguns milhares de euros para a reparação da orla costeira”, avançou o vice-presidente da câmara.
Na Póvoa de Varzim, o presidente da câmara, Aires Pereira, considerou nesta terça-feira que, nesta altura, e depois do mar ter galgado a marginal urbana do concelho, apenas merece "maior preocupação" o campo de golfe da Estela. "A duna primária que está entre o campo de golfe e o mar está a desaparecer. Se esta ruir, tememos pela segurança do campo, porque este está a uma cota baixa face ao areal", disse Aires Pereira.
O autarca adiantou que a Câmara da Póvoa de Varzim já pediu a colaboração da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e do Ministério do Ambiente para tentar encontrar uma solução definitiva para o campo de golfe, adiantando que a empresa que gere este espaço colocou sacos de areia junto à rebentação do mar, sendo esta uma "solução apenas provisória".
Aires Pereira comentou ainda o sucedido na tarde de segunda-feira, quando a marginal urbana da Póvoa de Varzim foi encerrada ao trânsito devido ao mar ter galgado a linha de costa, causando danos em estabelecimentos comerciais da Avenida dos Banhos. Aires Pereira observou que o registo mais recente de um comportamento do mar assim "agitado", na Póvoa de Varzim, data de 1976 e garantiu que o plano local de Protecção Civil está activado, com todos os meios municipais e de segurança pública "atentos e de prevenção".
Não houve registo de feridos. No entanto, a Capitania da Póvoa de Varzim referiu que "vários apoios de praia ficaram danificados, bem como escadas de acesso ao areal soterradas".
Ao longo da costa, de norte a sul, a limpeza das áreas afectadas foi uma das prioridades desta terça-feira. “Agora, o que importa é limpar o que está intransitável e reconstruir o que foi destruído”, afirmou o presidente da Câmara de Sintra, durante uma visita à Praia Grande. “O retrato é preocupante”, reconheceu Basílio Horta, acrescentando que o mau tempo terá causado “largos milhares de euros de prejuízos”.
O autarca destacou a existência de “prejuízos importantes” em vias de comunicação, “algumas das quais ficaram intransitáveis”, e de danos “em materiais de apoio às praias”. Basílio Horta acrescentou que vai ser estudada “uma isenção de taxas” para os comerciantes cujos negócios foram abalados por esta situação, matéria que foi alvo de uma proposta ontem apresentada pelo vereador independente Marco Almeida.
No município de Cascais as áreas mais afectadas foram, de acordo com o comandante operacional municipal, “as praias do Guincho, Cresmina, Moitas, Tamariz, Poça e Carcavelos, para além do Paredão Cascais-Estoril”. Pedro Lopes de Mendonça adianta que só na Praia de Carcavelos registaram-se estragos em 14 estabelecimentos de restauração e também no mobiliário urbano e equipamentos instalados ao longo do Paredão, onde a circulação pedonal continua desaconselhada, dados os trabalhos de limpeza e remoção dos destroços em curso.
“Tenho tudo destruído, de uma ponta à outra do restaurante. Rebentou portas, portadas, vidros, estragou as arcas frigoríficas. Perdi tudo, mas agora é erguer e ir para a frente”, afirmou o dono do Estrela do Mar, António Jorge. “Todos os anos o mar chega aqui ao paredão e os bares a poente acabam por ser afectados, mas nunca aconteceu com esta violência”, contou por sua vez José Silva, da Associação dos Concessionários e Amigos da Praia de Carcavelos.
Já no concelho de Almada, durante a tarde desta terça-feira, as autoridades continuavam a desaconselhar a circulação de pessoas no paredão da frente urbana da Costa da Caparica, desde São João da Caparica até à Nova Praia. “Estou há 48 anos na Costa da Caparica e nunca vi uma coisa igual”, constatou o proprietário do restaurante O Barbas, António Ramos, apontando para a existência de “prejuízos significativos”.
Segundo o vereador da Protecção Civil da Câmara de Almada, além de terem inundado alguns estabelecimentos comerciais, as ondas de grandes dimensões destruíram mobiliário urbano e danificaram o paredão. Rui Jorge Martins refere também a existência de “barcos virados”, na Cova do Vapor, e de um bar na Praia de São João cuja esplanada assenta em estacas de madeira que ficaram “descalças”, praticamente sem areia.
Em Peniche, o vice-presidente do Clube Naval, Manuel Chagas, deu conta de seis embarcações danificadas, duas delas com estragos irreparáveis. Durante a noite de segunda-feira o clube, que explora a marina, retirou do mar três embarcações em risco e recuperou uma outra que se encontrava à deriva no porto de pesca. Na Ericeira, no concelho de Mafra, um bar de praia e dois restaurantes sofreram danos significativos.
Em Leiria, o presidente do município apelou à intervenção da Agência Portuguesa do Ambiente, para que esta promova “uma intervenção de consolidação urgente” que trave o avanço do mar e impeça a repetição de estragos como aqueles que agora se verificaram na Praia do Pedrógão, a única do concelho. Já em Vila Nova de Milfontes, no município de Odemira, um restaurante na Praia do Farol ficou parcialmente destruído e houve também registo de embarcações e engenhos de pesca danificados.
No Algarve, a forte agitação marítima de segunda-feira também provocou muitos danos. Em Portimão, segundo Marina Correia, directora da marina, o mau tempo obrigou mesmo a que segunda-feira à noite tenha sido reforçado um dos pontões, trabalho que se prolongou durante esta terça-feira. No concelho de Lagoa, as vilas de Carvoeiro e Ferragudo foram particularmente fustigadas, tendo a água invadido espaços públicos de circulação pedonal e rodoviária e danificado restaurantes e apoios de praia.
Avisos sobre agitação marítima desagravados para Portugal continental
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) diminuiu, entretanto, a gravidade dos avisos devido à agitação marítima, colocando dez distritos de Portugal Continental sob aviso amarelo, e agravou as previsões devido à chuva para a Madeira.
O aviso amarelo, o terceiro mais grave, está activo entre as 23h desta terça-feira e o início da tarde de quarta-feira, nos distritos do Porto, Faro, Setúbal, Viana do Castelo, Lisboa, Leiria, Beja, Aveiro, Coimbra e Braga.
Para estes dez distritos esperam-se ondas de noroeste com quatro a cinco metros, podendo atingir os seis a oito metros.
Para Setúbal, Lisboa, Leiria e Santarém foi lançado ainda um aviso amarelo devido à previsão de períodos de chuva por vezes forte.
Para as costas Norte e Sul da Madeira, regiões montanhosas e para o Porto Santo, o IPMA lançou um aviso laranja, o segundo mais grave, entre as 6h e as 21h de quarta-feira devido a períodos de chuva ou aguaceiros fortes, podendo ser acompanhados de trovoada.