Souto Moura e Graça Morais: dois nomes, um centro cultural
O Centro de Arte Contemporânea tem o nome da pintora e a assinatura do arquitecto portuense. Serralves ajuda na programação
A A pintora trasmontana Graça Morais dá nome ao mais recente equipamento cultural da cidade de Bragança, o Centro de Arte Contemporânea, que é hoje inaugurado pelo primeir-ministro, José Sócrates. O espaço situa-se em pleno centro da cidade, no antigo Solar Sá Vargas, onde até 1993 funcionou a delegação do Banco de Portugal. A adaptação deste edifício e a construção de uma nova ala foram projectadas pelo arquitecto Souto Moura, o que para o presidente da câmara local representa uma dupla mais valia: "Os nomes de Graça Morais e Souto Moura, na pintura e na arquitectura, são referências internacionais. Ter em Bragança um equipamento que reúne ambos é uma dupla mais-valia", refere Jorge Nunes.O centro custou mais de cinco milhões de euros e integra o projecto Transmuseus: Rede de Museus Multifuncionais Transfronteiriços, que contempla também a construção do Museu Baltazar Lobo, em Zamora (Espanha), uma obra do arquitecto Rafael Moneo. Para além da exposição permanente que será constituída por 50 desenhos e pinturas sobre papel e duas pinturas sobre tela da artista Graça Morais, o Centro de Arte de Bragança vai receber exposições temporárias e a exposição inaugural é de Gerardo Burmester, As Cores não Dizem Nada, comissariada pelo director de Serralves, João Fernandes.
A Fundação de Serralves vai ter um papel preponderante no novo equipamento cultural. Para garantir as exposições temporárias e conseguir trazer até à capital nordestina mostras de grandes artistas, a autarquia local assinou um protocolo com a instituição portuense, que fica responsável pela programação e gestão dessas exposições. O Museu Baltazar Lobo, de Zamora, está a efectuar o mesmo percurso e pretende assinar um protocolo com Centro de Arte Reina Sofia, de Madrid. Jorge Nunes revela que se pretende estabelecer uma interacção permanente entre os dois equipamentos transfronteiriços e é possível que os dois municípios venham a elaborar conjuntamente as respectivas agendas culturais, para que exista complementaridade na oferta das duas cidades.
Este centro vem completar a oferta cultural existente no concelho e Graça Morais diz-se "honrada" por dar nome a um equipamento que, considera, "fazia falta à cidade". A artista conta que, na sua juventude, quando estudava em Bragança, sentia um enorme "isolamento" cultural por não ter espaços onde pudesse apreciar a obra de grandes artistas: "Na altura, o único local possível era no Museu Abade de Baçal", recorda. A pintora deseja estabelecer "uma ligação com as escolas", e promover nos mais jovens o gosto pela arte. Por essa razão, e à semelhança do que acontece com Serralves, o Centro de Arte de Bragança vai ter um Serviço Educativo, que vai desenvolver programas específicos para as escolas, que incluirão workshops temáticos, ateliês de artes plásticas, encontros de artistas, etc. "Os hábitos de consumo da cultura não se criam de um dia para outro: vão-se construindo, e é por isso que nós também queremos educar e criar públicos", assinala Jorge Nunes.
Com a abertura ao público do Centro de Arte Contemporânea, a Câmara de Bragança encerra um ciclo de investimentos em equipamentos culturais que deixam esta cidade de 20 mil habitantes com uma oferta rara noutros municípios da mesma dimensão. "Incluímos aqui o Teatro Municipal, o Museu Ibérico da Máscara e do Traje, o Centro de Ciência Viva, o Centro Cultural, a Biblioteca e Conservatório de Música e agora o Centro de Arte Contemporânea", enumera o presidente da câmara, Jorge Nunes, que, sete equipamentos e 25 milhões de euros depois, garante que "nunca há investimentos a mais na área da cultura".