Uma vida passada entre o forrobodó e os negócios
As suas sumptuosas festas deram origem à expressão popular forrobodó. Dono de um património que incluía a Quinta das Laranjeiras, onde hoje está instalado o Jardim Zoológico de Lisboa, o conde de Farrobo viveu uma vida intensa em que se dedicou a negócios tão díspares como a fiação de seda, os seguros e as minas de carvão. Mecenas das artes, foi sob a sua gerência que o Teatro de S. Carlos contratou alguns dos melhores artistas de então. Eram, de resto, seus os terrenos do Chiado onde surgiu a casa da ópera. Cedeu-os em troca de um camarote permanente defronte do da família real.
Quando a comprou, a quinta já incluía o palácio da Estrada das Laranjeiras, onde hoje está instalado o Ministério da Ciência. "O seu entusiasmo pelas artes cénicas levou-o à construção de um teatro" em 1820, refere a memória descritiva do projecto de reabilitação que está neste momento a ser executado. A sala de espectáculos foi dedicada a Talia, a musa da comédia na mitologia grega. Durou pouco mais de 20 anos este primeiro edifício, reedificado sob a direcção de Fortunato Lodi, o autor do Teatro D. Maria II. A rainha, que frequentava a casa do conde, esteve na sua inauguração. Tal como o palácio, também o teatro teve iluminação a gás duas décadas antes do resto da cidade dispor dela.
Leões, tigres e panteras
As representações no teatro das Laranjeiras ficaram célebres. Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, estreou aqui, e foi no Thalia que subiram à cena óperas dos compositores mais prestigiados da época. Dos luxuosos camarins e do opulento salão de baile do Thalia nada resta hoje. Nem dos espelhos de Veneza que reflectiam a luz dos lustres. Um incêndio em 1862 havia de ditar o seu fim. Sobrou a fachada com colunas, as paredes e pouco mais. Apesar de arruinado, o Thalia mantém hoje o estatuto de imóvel de interesse público que lhe foi conferido em 1974.
Defensor da causa liberal, o Conde de Farrobo acabaria por morrer na miséria. Mas as suas festas e extravagâncias perduraram na memória não só dos que a elas assistiram como das gerações seguintes. "Durante a primeira metade do séc. XIX mandou vir leões, tigres e panteras para exibir em jaulas" na quinta, refere a mesma memória descritiva.