S.Torpes, a praia com águas quentes e frias
A central de Sines não lança só poeiras na atmosfera. O caudal quente que descarrega no mar é um chamariz para peixes e pessoas
Muitos dos banhistas que chegam à praia de S.Torpes, junto à central termoeléctrica de Sines, são movidos pela curiosidade de meter o pé na água do mar para saber se realmente a temperatura é mesmo tépida. Foi o que aconteceu com Gestrudes Basso, natural de Santarém, que no caminho para o Algarve fez um desvio até à costa alentejana para confirmar o que uma pessoa amiga lhe tinha dito: que em S. Torpes se podia escolher entre dar um mergulho em água quente ou fria. " E aqui estou eu, deliciada, com água pela cintura sem vontade de sair". A seu lado, o marido com a pele a revelar falta de praia, coçava a barriga com água pelos artelhos, repetindo: "A água está mesmo morninha".
Do parque de estacionamento que foi instalado junto à zona balnear é que se pode constatar a diferença. O areal com de cinco quilómetros de extensão concentra, em poucas dezenas de metros, mais de cem chapéus de praia. Nem mesmo a placa que assinala o local como desaconselhado a banhos demove as pessoas. Com efeito, uma faixa com cerca de 30 metros de largura junto aos muros de pedra que ladeiam o canal por onde as descargas da termoeléctrica, está demarcada por pequenas bóias. Os perigos resultantes das pedras que se podem desprender ou onde se pode escorregar, não demovem os banhistas que saltitam sobre elas.
Mas "vale a pena se tivermos cuidados", justifica-se Manuel Brito, que mora no centro de Sines, sentado sobre um enorme calhau de basalto, à beira de água.No canal de descarga foram instaladas telas de plástico para impedir que a espuma trazida pela água vinda da termoeléctrica, seja lançada no oceano. Os peixes em extensos cardumes, também eles, sobem o canal ao encontro da água quente ou, eventualmente, de alguns nutrientes transportados pelo caudal. É um lugar de eleição para os pescadores desportivos.
Por vezes os banhistas quando se deliciam na água tépida são importunados por uma onda de água fria, logo seguida de outra mais agradável. O melhor, segundo um "especialista" que frequenta o local há 15 anos, "é tomar banho junto ao canal de descarga da central". Ali é sempre quente. Os que suspeitam "das químicas" que a água quente possa arrastar, ficam-se pela zona fria, onde os banhistas se contam pelos dedos das mãos.
Alfredo Cancela, "um alentejano meio alfacinha" comparou S. Torpes à praia da Cruz Quebrada. Mas houve logo quem reagisse dizendo que ali não se largava a porcaria que estragou a "praia dos lisboetos" dos anos 40 e 50 do século passado.
Uma mãe que carregava arca congeladora, toalhas e sacos, chamava pelos filhos, ameaçando-os que ficariam ali se não se despachassem. Venceram os garotos, que ficaram dentro de água, enquanto ela não teve outro remédio senão sentar-se na areia, remoendo a triste ideia de vir para S. Torpes. Acabou por recorrer à palmada de que resultou um dueto de berros, que buliu com o sossego da praia "sui generis".