Corpo presente, mente ausente
António Costa escolheu o quinto aniversário da sua vitória autárquica para anunciar que, embora mantenha a sua candidatura nas autárquicas de Lisboa para um novo mandato, está interessado num cargo de chefia no seu partido, e, assim, na continuação da sua carreira política de plataforma em plataforma, utilizando trampolins e acrobacias.
Será portanto difícil encontrar uma melhor ilustração de que a sua mente "voa" para outros objectivos e não está concentrada e dedicada exclusivamente a Lisboa. Num momento em que os cidadãos sentem uma verdadeira repulsa e demonstram um profundo cepticismo pelas manobras do jogo político, pelas teias insondáveis de influências e nomeações, determinadas já não apenas pelos clubes políticos, mas por organizações secretas ou não, omnipresentes e transversais à política, nunca a autenticidade e a genuína motivação e dedicação foram tão fortemente e ansiosamente desejadas. Assim, é isso que se deseja de um autarca: uma total e exclusiva dedicação e paixão pela cidade que representa.
Todos aqueles que participam activamente no processo de cidadania têm razões para este cepticismo. Analisando o processo de eleição de José Sá Fernandes e de Helena Roseta, vindos de uma originalmente prometida independência e representação da causa da cidadania, teremos de concluir que a única forma de voltarem a participar nas eleições será através da "fórmula" de perfilamento e definição política inspirada por Prince, o famoso artista da música pop.
Assim, a "fórmula" de Prince, "O artista conhecido anteriormente como Prince", será a única possível de perfilamento e apresentação para estes dois "artistas" politiqueiros, José Sá Fernandes e Helena Roseta. Ambos conhecidos formalmente como paladinos da independência e cidadania, mas agora "transformados" por sua opção consciente e neutralizados por António Costa.
Também, as graves, destruidoras e alienantes consequências para o património arquitectónico do trabalho desenvolvido por Manuel Salgado, na sua pseudo-reabilitação urbana, são visíveis na Baixa pombalina e nas avenidas. Mas o vereador do Urbanismo tem sido exímio na sistemática perseverança de como tem "minado" o terreno legislativo. Utilizando-se do argumento de uma indiscutível necessidade de reforma, desburocratização e aceleração dos processos de licenciamento, conseguiu uma sintonia e ponte permanentes, uma espécie de "via verde" para acordo dos "pareceres" na área do património, com equipa permanente à sua disposição dentro do próprio corpo institucional do património.
Isto, juntamente com uma sintonia perfeita com o nebuloso e indefinido projecto subjectivo e pessoal da nova Direcção-Geral do Património, representado por Elísio Summavielle, garante-lhe "carta branca" para a destruição sistemática do património arquitectónico lisboeta, na Baixa e nas avenidas.
Perante as críticas e solicitações exteriores, António Costa tem-se fechado no seu "castelo", inexpugável e insensível aos frequentes pedidos de esclarecimento, tanto dos cidadãos activos como da comunicação social, interpretando o espaço adquirido pela sua vitória eleitoral como exclusivamente "seu". Brevemente, o "Lord-Mayor" terá de se aventurar no exterior, nas "feiras e aldeias" exteriores ao castelo, a fim de garantir de novo, os votos, indispensáveis para manter o seu "domínio".
Resta assim à verdadeira cidadania, de livre acesso e abertas a todos cidadãos verdadeiramente crentes na Cívitas e Civilitas, uma defesa activa do património e da qualidade de vida em Lisboa. E não é demais voltar a afirmar o princípio: A cidadania não vai a votos! A cidadania exerce-se!
Historiador de Arquitectura