Casal vegan julgado em França pela morte de filha bebé
Um casal francês vegan, que alimentou a filha até aos 11 meses apenas com leite materno, compareceu ontem em tribunal depois de o bebé ter morrido por falta de vitaminas. Os Le Moaligou estão acusados de ter provocado, negligentemente, a morte da filha Louise por causa do seu regime alimentar que proíbe qualquer produto de origem animal, incluindo ovos ou leite de vaca.
No dia 25 de Março de 2008, preocupados com o estado de fraqueza da filha, Sergine e Joel Le Moaligou chamaram os serviços de urgência a sua casa. Quando a ambulância chegou a Saint-Maulvis, a pequena cidade onde vive a família, em Somme, no Norte de França, os enfermeiros já nada puderam fazer senão comprovar a morte da criança. Louise morreu com menos de um ano, tendo sido alimentada durante a sua curta vida apenas com leite materno.
Impressionados com o peso do bebé - 5,7 quilos, em comparação com os oito que constituem a média para a idade -, os serviços de urgência chamaram as autoridades policiais. A autópsia da menina veio revelar uma carência em vitaminas A e B12. De acordo com a vice-procuradora da República de Amiens, em Somme, "o problema da carência em vitamina B12 pode estar relacionado com o regime alimentar da mãe".
A Presidente da Associação Portuguesa dos Nutricionistas, Alexandra Bento, confirmou que uma mãe com um regime "muito restrito", como era o caso da mãe da menina francesa, constitui uma situação perigosa para o desenvolvimento do bebé. Alexandra Bento sublinhou, em declarações ao PÚBLICO, que um regime desse tipo leva, efectivamente, a uma carência de vitamina B12 na criança que se alimenta apenas do leite de uma mãe que segue uma dieta vegan. A especialista declarou-se chocada com a situação e adiantou que a perda de peso da criança era "facilmente correlacionável com a alimentação da mãe".
Segundo o advogado da mãe, Stéphane Daquo, os pais de Louise terão aderido à dieta vegan depois de terem visto um programa de televisão sobre "o transporte do gado para os matadouros". Além de seguirem o chamado "veganismo", o casal era grande adepto da medicina tradicional, tendo recusado hospitalizar a filha em qualquer altura, antes preferindo cuidar da criança com os seus próprios meios, recorrendo à ajuda de livros. Com nove meses, foi diagnosticada uma bronquite a Louise e os pais foram aconselhados pelo médico a internar a filha, mas preferiram tratá-la com receitas à base de argila ou de couves, conta o advogado.
Em conversa com o PÚBLICO, o médico pediatra Luís Pinheiro afirmou não ser possível estabelecer uma ligação directa entre um regime vegetariano de uma mãe e a morte de uma criança com carência de vitaminas A e B12, antes frisando que o problema é o regime ser "mal seguido", não havendo acompanhamento médico. O especialista adiantou que uma criança com alimentação vegetariana pode ficar carente "mas não se pode dizer que provoca a morte".
A sentença deverá ser conhecida sexta-feira e o casal poderá enfrentar 30 anos de prisão. O advogado de Joel sublinhou que os pais já "tomaram consciência do erro que cometeram".