Homens enérgicos e divertidos

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A alfaiataria entrou no universo do pronto-a-vestir e modernizou os cortes e tonalidades dos fatos. Propostas de Nuno Gama, Louis Vuitton e Alexandra Moura (da esquerda para a direita) Rui Vasco

Eles já não têm medo do cor-de-rosa. Estão mais ousados e até se atrevem a misturar estilos. Adeus, fatos cinzentos. Olá, bermudas.

A designer de moda portuguesa Alexandra Moura quer ver homens vestidos de vermelho. A Louis Vuitton trocou as calças por bermudas. E Nuno Gama reinventou o fato acrescentando-lhe laços de tule.

As colecções de homem para a Primavera/Verão têm frescura, vigor e modernidade. Foi recuperado o sentido de optimismo e de experimentação, bem como um sentimento de energia e divertimento. Regressaram às passerelles depois de terem ficado esquecidos nas últimas temporadas.

"Podemos dizer que nasceu um novo estilo citadino que mistura elementos do sportswear com a roupa mais clássica, caso de uma calça com um blusão desportivo", explica a stylist e buyer das lojas Fashion Clinic, Xana Guerra. Os homens, enquanto consumidores, sempre souberam o que queriam: peças funcionais, mas que se adaptem a situações de negócios e de lazer.

Esta nova tendência é visível em propostas da colecção de Jean-Paul Gaultier. Se na última estação o designer francês mostrou fatos de risca cinzenta que, segundo ele, representavam o céu escuro da incerteza económica, nesta estação as riscas são em vermelho brilhante, branco e azul, num golpe optimista conseguido com a genialidade de Gaultier.

Como refere o jornal Financial Times, o estilo marinheiro contemporâneo de Gaultier é quase "dandy na sua interpretação das clássicas riscas de marinheiro". Contrastando, por exemplo, com a colecção de Giorgio Armani, que - prossegue aquele jornal - continua a apostar na sua convencional e semiformal inspiração náutica, firmemente ancorada em porto seguro.

Cores fortes

As cores vibrantes que desfilaram nas principais passerelles da moda chamaram a atenção para a cor e deram alguma graça às colecções. Por entre os designers portugueses, Alexandra Moura e Nuno Gama foram dos mais ousados na escolha de tons vitaminados.

"Nunca tinha utilizado vermelhos nas minhas criações. Sempre achei uma cor arriscada e durante muito tempo repudiei-a. Ao organizar esta colecção, senti uma necessidade enorme de explodir com o vermelho", disse à Pública Alexandra Moura. Procurou ir além do óbvio e foi buscar inspiração, para detalhes e formas, a épocas tão diferentes como os anos de 1920, 1980 e de 2010. O resultado é um jogo óptico criado a partir de padrões e texturas, onde o triângulo foi a forma para o corpo. "O esguio, o volume e o acto de ajustar fazem parte da concretização desta forma geométrica, que é brindada por pormenores como laços e vivos", diz Alexandra.

O universo do desporto, desde a vela ao ténis, passando pelo basquetebol, foi revisitado por muitos dos designers para conseguirem interpretações modernas que incluíram nas suas colecções.

Limousine out, bicicleta in

Os desportos de Verão deram o mote à colecção que o americano Tom Browne criou para a marca italiana Moncler. O que Browne fez brilhantemente foi justapor técnicas de fabrico convencionais com alternativas high-tech, incluindo o nylon, a borracha e o neoprene, para criar roupa que tanto se pode usar num elegante bar nova-iorquino como numa competição da American"s Cup.

Já a mensagem que se pode tirar da colecção da Louis Vuitton é a de que o homem que veste um fato clássico e chega ao escritório numa limousine está out. Isto porque o homem de negócios moderno está cada vez mais arrojado e não dispensa a sua bicicleta Brompton, mas pode abster-se de usar roupas de marca em benefício da redução dos gases de carbono.

O director criativo da Burberry Prorsum, Christopher Bailey, também usou detalhes do desporto, como as faixas de tecido que lembram as correias do arnês, que fazem parte do equipamento de escalada, e grandes mochilas, em pele ou tecido, capazes de levar tudo o que o homem precisa para usar na cidade.

O nylon - que surgiu como material de eleição dos designers de moda no início dos anos de 1990, quando uma marca emergente chamada Prada o elevou ao status de material de luxo - apareceu na maior parte das colecções para esta estação, em peças práticas como parkas, mas também nos fatos mais clássicos.

A colecção Prada surpreendeu a stylist portuguesa. "Andava demasiado repetitiva, apesar de nunca ter perdido a qualidade na escolha dos materiais. Desta vez, conseguiu criar uma imagem muito forte com sobreposições de peças, o corte das camisas e a opção de gravatas fininhas."

A sobreposição de peças é uma das grandes tendências para a estação quente. Por exemplo, usar uma camisa com um cardigan sem mangas e ainda o blazer por cima. "É muito trendy."

Os portugueses gostam

de fatos

No que diz respeito a qualidade, bons cortes e intemporalidade, as marcas que Xana Guerra destaca são a inglesa Burberry Prorsum e as italianas Bottega Veneta e Gucci. "As peças de roupa são mais caras, mas daqui a 20 anos continuam a estar impecáveis para vestir", refere a stylist, que não compra peças destas marcas por serem demasiado caras para o consumidor português.

Os estilos a que os portugueses vão aderir mais facilmente são o sportswear e a alfaiataria, sendo este último o que mais se consome no nosso país. "Ainda é a grande força da indústria de moda em Portugal, ao lado da do calçado", refere Xana Guerra.

E quanto a vestir um fato vermelho? "Não me parece. Até o Dirk Bikkembergs [designer de moda belga] já tentou, mas o fato ficou na montra", refere Xana Guerra, mas sublinhando que em moda é tudo relativo. A um cantor de rock - explica - tudo é permitido; num país tropical, o vermelho faz parte da paleta de cores vestíveis. Mas em Cascais é habitual vermos homens, no Verão, com calças de ganga vermelhas, o que não se vê noutro país. A

mito@publico.pt

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