Adeus, Aleixo. David fez o retrato de um “bairro condenado” à morte

©David Gonçalves
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Ao longo de dois anos, David Gonçalves visitou e documentou o bairro do Aleixo, no Porto, um complexo habitacional camarário – "conhecido como o maior supermercado de droga do Norte do país", descreve o fotógrafo –, localizado numa zona privilegiada junto às margens do Douro, que foi demolido para dar lugar a uma urbanização de luxo.

"O longo processo [de demolição, concluído em 2019,] deixou o bairro oprimido num inferno visível de putrescência viva, exposto ao olhar de todos", descreve David ao P3. "Com o bairro condenado ao fim, as torres degradaram-se, os elevadores [das torres de 13 andares] deixaram de funcionar. Os residentes testemunharam, durante anos, a renúncia compulsiva do Estado." O fotolivro Aleixo, que é lançado esta quinta-feira, 1 de Outubro, "é a história de um bairro condenado, de famílias abandonadas à sua sorte numa luta travada contra os poderes camarários, as autoridades policiais e a especulação imobiliária".

As imagens de David Gonçalves, nascido em 1990 em Lisboa, não necessitam de legenda. Descrevem uma realidade marcada pelo flagelo do tráfico e consumo de drogas, marcada pela pobreza e pela negligência institucional. A culpa, refere, "não pode ser atribuída, exclusivamente, aos executivos camarários dos últimos 20 anos". "O próprio Estado mostrou-se complacente perante a situação."

fotolivro Aleixo, totalmente autofinanciado e disponível para venda no site do documentarista por 20 euros, surgiu da necessidade de "assumir uma postura crítica perante uma realidade tantas vezes silenciada e ignorada", ressalva. "Urge um honesto e verdadeiro debate entre as forças regionais, governamentais e as instituições sociais relativamente ao uso de drogas. Com o fim do Bairro do Aleixo, deu-se uma grande descentralização dos consumidores de rua, que passaram a ocupar zonas mais centrais e visíveis [da cidade do Porto], coisa que não era tão evidente até à demolição." Por outro lado, denuncia, muitos moradores foram realojados noutros bairros camarários e debatem-se com os mesmos problemas: "Muitas famílias continuam a passar dificuldades económicas, muitas crianças continuam a crescer em ambientes socialmente complexos. Nem sempre há dinheiro e emprego para conseguir uma vida digna dentro do próprio lar, garantir uma refeição à mesa." 

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